O desnorte

Henrique Custódio

Há dias, Maria Luís Al­bu­querque tre­me­li­cava êx­tases a anun­ciar que as «pre­vi­sões do Go­verno» para o OE de 2017 «iam fa­lhar», ar­gu­men­tando com nuns qua­dros que o PSD «tinha exi­gido», que só apa­re­ce­riam «perto da meia-noite» e per­mi­ti­riam à feliz de­pu­tada «prever» que as pre­vi­sões go­ver­na­men­tais iam fa­lhar («prever pre­vi­sões» só mesmo esta gente).

A ori­gi­na­li­dade desta ge­rin­gonça for­ne­cida por Maria Luís está no sim­bo­lismo: traduz o único pro­jecto que move o PSD e o CDS – o de pro­cu­rarem minar, a todo o custo, qual­quer ac­ti­vi­dade go­ver­na­tiva, sem pre­o­cu­pa­ções pelas con­sequên­cias para o povo e o País.

A no­vela em que se tornou a questão da Caixa Geral de De­pó­sitos é disto uma evi­dência.

Em rigor, o PSD con­corda com o Go­verno PS no pa­ga­mento mi­li­o­nário ao pre­si­dente da CGD, como uma longa prá­tica go­ver­na­tiva o atesta, com re­levo para o exe­cu­tivo de Passos Co­elho. O que o PSD de Passos pre­tende é de­ses­ta­bi­lizar o mais pos­sível a si­tu­ação da Caixa, im­pe­dindo a sua re­ca­pi­ta­li­zação e, se pos­sível, a sua pró­pria exis­tência como banco pú­blico. Por trás da agre­mi­ação la­ranja pu­lulam, como sempre, vastos e clan­des­tinos in­te­resses, onde a pri­va­ti­zação do banco pú­blico tem lugar de des­taque (aliás, em tempos aflo­rada por Passos Co­elho).

PSD e CDS apro­veitam qual­quer in­ci­dente para de­sen­ca­de­arem cam­pa­nhas di­fa­ma­tó­rias, sem pudor nem es­crú­pulos e vi­sando, sempre, o único ob­jec­tivo que per­se­guem: o de criar obs­tá­culos e pro­blemas ao Go­verno.

O caso das de­mis­sões de dois as­ses­sores, apa­nhados a os­tentar in­de­vi­da­mente li­cen­ci­a­turas que não pos­suíam, ilustra também esta sanha, com ambos os par­tidos de di­reita a rasgar as vestes de vir­gens ofen­didas e ig­no­rando o «es­cân­dalo Relvas» do seu ro­sário go­ver­na­tivo, esse sim, um ver­da­deiro es­cân­dalo a ar­rastar-se du­rante meses e meses e a ficar na me­mória do País como o pa­ra­digma da des­ver­gonha e do des­ca­ra­mento, bas­tando citar o «caso Relvas» para toda a gente saber do es­cân­dalo que ele re­pre­senta.

E o ar­gu­men­tário que usam? Aí, a bam­bo­chata toma o freio nos dentes e ga­lopa num de­sa­tino. Ora apontam o dedo aos au­mentos mo­destos dados aos re­for­mados, ora acusam de nada ter sido au­men­tado para, fi­nal­mente, con­si­de­rarem os cortes nas pen­sões (que eles fi­zeram) mais agra­vados do que es­tavam. Uns dias (ou no mesmo dis­curso) acham que «o PS está refém dos ali­ados», en­quanto o PCP é acu­sado de «estar a ceder» nos seus prin­cí­pios, ora cri­ticam a ac­tual po­lí­tica go­ver­na­tiva de estar a «levar Por­tugal para o de­sastre», ora acusam o «go­verno das es­querdas» de não estar a «cum­prir o pro­me­tido».

O dis­curso é er­rá­tico e sem pre­o­cu­pa­ções de sus­ten­tação e a sanha em dizer mal é tão ob­ses­siva, que de­nuncia um facto de re­levo, na di­reita por­tu­guesa: nela, o des­norte é fla­grante.

 



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