Disse e fez

Henrique Custódio

Passos Co­elho con­tinua a pas­sear a sua Corte de al­deia e dá en­tre­vistas sempre em pose, que já não é de Es­tado mas do es­tado a que chegou. Desta vez foi no Pú­blico, cinco pá­ginas e dois en­tre­vis­ta­dores, que a fi­gura é de es­tadão.

Per­gun­tado sobre a fra­gi­li­dade da sua li­de­rança, ex­plicou la­bo­ri­o­sa­mente que, além de ter um man­dato «claro» do PSD, esse man­dato não pode, do ponto de vista elei­toral, «ter uma ex­pressão que me deixe mais con­for­tado».

Assim con­for­tado, ga­rantiu não re­nun­ciar ao com­bate que o man­dato lhe ofe­rece, «res­pon­sa­bi­li­dade de que darei conta ao par­tido e aos por­tu­gueses», com um aviso: «Não vou fazer en­dos­co­pias par­ti­dá­rias para saber quem é que po­derá estar no fu­turo mais bem co­lo­cado para ser pre­si­dente do PSD ou não».

Esta cu­riosa aná­lise en­dos­có­pica aos in­te­ri­ores do PSD põe o par­tido na maca e faz temer pelas even­tuais aná­lises que Passos se ar­rime a ex­pe­ri­mentar «pra fu­turo» (como gosta de dizer), o que não deve deixar o PSD muito sos­se­gado com as suas coisas in­ternas, já de si pro­ver­bi­al­mente de­sas­sos­se­gadas.

No que toca às pró­ximas elei­ções ge­rais au­tár­quicas, Co­elho acha que não ga­nhar as câ­maras mu­ni­ci­pais de Lisboa e do Porto «não é uma der­rota» (o que faz supor que ganhá-las sig­ni­fica perder), de­cla­rando que «agora é cedo de mais» para es­co­lher um can­di­dato a Lisboa, em­bora es­pere «que a es­colha não venha a ser tarde de mais», o que re­vela um pre­cioso mo­mento de lu­cidez.

Mas quando lhe per­gun­taram quando apre­sen­taria as pro­postas de uma al­ter­na­tiva ao ac­tual Go­verno, foi pro­lixo: ga­rantiu que «nós temos uma al­ter­na­tiva de go­verno, temos vindo a apre­sentá-la con­sis­ten­te­mente e as pes­soas têm uma noção muito clara do que é que o PSD re­pre­senta», de­pois as­se­verou que «a pro­posta que eu fiz ao País nas elei­ções de há um ano não era um re­gresso ao pas­sado» e, fi­nal­mente, con­cluiu que «nós não pre­ci­samos de in­ventar pro­postas novas, quando sa­bemos quais são os pro­blemas que o País pre­cisa de re­solver».

Está tudo dito: co­meça por ga­rantir que têm uma «al­ter­na­tiva» e não diz qual, ga­rante que a pro­posta elei­toral de há um ano «não era um re­gresso ao pas­sado» e como a «pro­posta» que agora tem é igual à do pas­sado, es­cusa-se a dizê-la ar­gu­men­tando que «não pre­ci­samos de in­ventar pro­postas novas».

Pois não. É que a «pro­posta» que o PSD de Passos Co­elho tem para go­vernar o País é, exac­ta­mente, a mesma com que es­pa­lhou o de­sem­prego e a mi­séria em quatro anos de go­verno, vi­sando a «es­tra­tégia po­lí­tica» de em­po­brecer Por­tugal e os por­tu­gueses.

Já lá vai o tempo em que Passos, na ar­ro­gância da chan­ce­laria, pro­punha aber­ta­mente a po­breza como po­lí­tica de Es­tado, ar­gu­men­tando que «temos de viver à me­dida das pos­si­bi­li­dades».

Agora sabe que não pode dizê-lo, mas o País não es­queceu que ele o disse – e so­bre­tudo o que fez.

 



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