Disse e fez
Passos Coelho continua a passear a sua Corte de aldeia e dá entrevistas sempre em pose, que já não é de Estado mas do estado a que chegou. Desta vez foi no Público, cinco páginas e dois entrevistadores, que a figura é de estadão.
Perguntado sobre a fragilidade da sua liderança, explicou laboriosamente que, além de ter um mandato «claro» do PSD, esse mandato não pode, do ponto de vista eleitoral, «ter uma expressão que me deixe mais confortado».
Assim confortado, garantiu não renunciar ao combate que o mandato lhe oferece, «responsabilidade de que darei conta ao partido e aos portugueses», com um aviso: «Não vou fazer endoscopias partidárias para saber quem é que poderá estar no futuro mais bem colocado para ser presidente do PSD ou não».
Esta curiosa análise endoscópica aos interiores do PSD põe o partido na maca e faz temer pelas eventuais análises que Passos se arrime a experimentar «pra futuro» (como gosta de dizer), o que não deve deixar o PSD muito sossegado com as suas coisas internas, já de si proverbialmente desassossegadas.
No que toca às próximas eleições gerais autárquicas, Coelho acha que não ganhar as câmaras municipais de Lisboa e do Porto «não é uma derrota» (o que faz supor que ganhá-las significa perder), declarando que «agora é cedo de mais» para escolher um candidato a Lisboa, embora espere «que a escolha não venha a ser tarde de mais», o que revela um precioso momento de lucidez.
Mas quando lhe perguntaram quando apresentaria as propostas de uma alternativa ao actual Governo, foi prolixo: garantiu que «nós temos uma alternativa de governo, temos vindo a apresentá-la consistentemente e as pessoas têm uma noção muito clara do que é que o PSD representa», depois asseverou que «a proposta que eu fiz ao País nas eleições de há um ano não era um regresso ao passado» e, finalmente, concluiu que «nós não precisamos de inventar propostas novas, quando sabemos quais são os problemas que o País precisa de resolver».
Está tudo dito: começa por garantir que têm uma «alternativa» e não diz qual, garante que a proposta eleitoral de há um ano «não era um regresso ao passado» e como a «proposta» que agora tem é igual à do passado, escusa-se a dizê-la argumentando que «não precisamos de inventar propostas novas».
Pois não. É que a «proposta» que o PSD de Passos Coelho tem para governar o País é, exactamente, a mesma com que espalhou o desemprego e a miséria em quatro anos de governo, visando a «estratégia política» de empobrecer Portugal e os portugueses.
Já lá vai o tempo em que Passos, na arrogância da chancelaria, propunha abertamente a pobreza como política de Estado, argumentando que «temos de viver à medida das possibilidades».
Agora sabe que não pode dizê-lo, mas o País não esqueceu que ele o disse – e sobretudo o que fez.