Evitar mais tragédias
Após a vaga de incêndios, a BALADI – Federação Nacional dos Baldios exige que o Governo seja célere na aplicação de medidas de excepção para acudir às populações, assim como aos pequenos e médios agricultores e produtores florestais.
Visão integrada que equacione as várias frentes
«Ciclicamente, sempre que o País é confrontado com a severidade meteorológica, assistimos a um lastro dantesco, imagens televisivas de serras a arder e incandescentes; património agro-florestal destruído; “soldados da paz” exauridos pelo cansaço; vidas humanas ceifadas perante a tragédia que entra pela soleira da porta em zonas periurbanas; abertura de telejornais para falar sobre incêndios e potenciais pirómanos, ou os interesses da indústria do fogo; tudo isto acompanhado da plêiade de comentaristas, especialistas em criar cenários e puxar pelos diagnósticos, das eventuais miríades de soluções, para a resolução deste tão magno problema», descreve a BALADI, interrogando-se: «E depois de tudo isto? O que mudou ou está a mudar nesta dicotomia prevenção/combate a incêndios?».
Em nota de imprensa, divulgada no dia 17, a Federação recorda os «fatídicos e trágicos» acontecimentos dos incêndios de há 10 anos, que «levaram à delapidação de centenas de milhares de hectares de floresta e matos».
«A ilação que se pode extrair desses acontecimentos é que se discutiu e escreveu muito, falou-se demais, mas fez-se pouco ou quase nada. Não foi por falta de elaboração de planos nacionais, regionais e concelhios, ou da constituição de comissões de peritos com vista a estudarem as causas destes magnos problemas. Antes pelo contrário, foi a ausência de investimento, de uma verdadeira perspectiva integrada na área da prevenção estrutural» e «as erradas opções em matéria das políticas nacionais e da PAC (Política Agrícola Comum)».
Visão integrada
Como «solução», para atacar, de uma vez por todas, «os problemas que estão na génese dos incêndios», a Federação, filiada na Confederação Nacional da Agricultura (CNA), defende que é preciso ter «uma visão integrada que equacione as várias frentes, desde as medidas de investimento e suas espécies, ao reforço estrutural da prevenção, a ousadia no enfrentar convictamente o lobby que espreita o infortúnio dos proprietários florestais, agricultores, comunidades locais» para aumentar os seus lucros.
Tudo isto passa por «uma política agro-florestal que rompa com o rolo compressor da PAC (Política Agrícola Comum), modelo que tem levado ao ostensivo abandono e ao despovoamento de muitas aldeias do Norte e centro do País».
A BALADI defende, ainda, que «as equipas de sapadores florestais deveriam ter uma estabilidade sustentada, já que o esforço continuado dos portugueses, no pagamento dos impostos do gasóleo, não está a ser direccionado para a prevenção», é preciso «evoluir de uma óptica de protecção civil do combate para um outro modelo que tenha como objectivo a intervenção e o combate» e «promover o envolvimento das associações florestais na prevenção de incêndios».
BALAGRI apresenta propostas
Políticas de apoio
à fixação da população
No dia 17, a BALAGRI – Associação dos Baldios e Agricultores da Região de Viseu informou que só no concelho de Viseu conta-se já mais de um milhar de hectares de área ardida, particularmente nas freguesias de Torredeita e dos Coutos.
No concelho de S. Pedro do Sul a catástrofe atingiu não só a floresta mas também gado, apiários, casas de habitação e de lavoura, redes de água, de electricidade e comunicações.
Em comunicado, a associação entende que a ocorrência dos incêndios resulta do «abandono forçado das populações dos meios rurais», da «falta de ordenamento florestal com excessivo e crescente recurso à monocultura, seja de pinheiro, seja de eucalipto, com clara predominância deste último», da «falta de limpeza das matas privadas, públicas e comunitárias», da ««não inclusão estruturada das populações rurais na ajuda ao combate dos incêndios», do «reduzido número de equipas de sapadores florestais», da «inexistência de um efectivo planeamento em matéria das redes primárias e secundárias» e do «aumento significativo do fosso financeiro entre a prevenção e o combate».
Assim, o Governo tem que promover «políticas de apoio à fixação das populações nos meios rurais» através de «apoios à pequena e média agricultura, garantindo o escoamento dos produtos agrícolas/florestais a preços justos, nomeadamente do material lenhoso queimado», da «abertura/reabertura de serviços públicos», da «revisão da lei que liberaliza a plantação do eucalipto» e do «aumento do financiamento na prevenção dos fogos florestais».