Proposta do PSD sobre Segurança Social

Nem útil nem construtiva

O Par­la­mento re­jeitou com os votos contra do PS, PCP, PEV e BE o pro­jecto de re­so­lução apre­sen­tado pelo PSD para a cri­ação no âm­bito da AR de uma co­missão even­tual para «es­tudar e pro­mover» so­lu­ções para uma «re­forma» do sis­tema pú­blico da Se­gu­rança So­cial.

O ataque à Se­gu­rança So­cial visa fra­gi­lizá-la para assim fa­vo­recer os in­te­resses fi­nan­ceiros

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O ob­jec­tivo desta ini­ci­a­tiva, que contou com o apoio do CDS, é, se­gundo o de­pu­tado Marco An­tónio Costa, «sentar todos» à mesa, «ouvir es­pe­ci­a­listas», para de se­guida «apre­sentar me­didas e so­lu­ções que sal­va­guardem a Se­gu­rança So­cial».

Num dis­curso mis­ti­fi­cador que con­tradiz o que foi a sua prá­tica en­quanto cor­res­pon­sável pelo go­verno an­te­rior, o PSD apre­sentou-se assim a de­bate di­zendo que não quer «qual­quer re­forma que corte pen­sões a pa­ga­mento» (quando antes pro­meteu a Bru­xelas uma re­dução da des­pesa na Se­gu­rança So­cial de 600 mi­lhões) e que «não quer qual­quer so­lução de pri­va­ti­zação» do sis­tema (quando tudo fez para in­tro­duzir o pla­fo­na­mento).

Daí que a ini­ci­a­tiva do PSD tenha sido en­ca­rada como des­ti­tuída de sen­tido e pouco séria pelos par­tidos à es­querda do he­mi­ciclo, que tra­taram de re­cordar com de­talhe me­didas do exe­cu­tivo an­te­rior que os por­tu­gueses não es­quecem, como sejam, por exemplo, a sus­pensão da an­te­ci­pação da re­forma, o agra­va­mento do factor de sus­ten­ta­bi­li­dade, ou os cortes nos apoios so­ciais e nas pen­sões (ver caixa).

Ma­no­bras

A ideia do PSD de que é pre­ciso es­tudar os pro­blemas da Se­gu­rança So­cial para a se­guir apre­sentar pro­postas no fu­turo levou ainda An­tónio Fi­lipe a con­cluir que afinal o PSD e o CDS «es­ti­veram quatro anos no go­verno e não es­tu­daram nada». «Agora que pas­saram à opo­sição é que é ne­ces­sário es­tudar os pro­blemas da Se­gu­rança So­cial», iro­nizou, antes de se in­ter­rogar sobre a hi­pó­tese de o PSD não ter mesmo pro­postas. E a con­clusão a que chegou é que «lá ter tem, só que como está na opo­sição já não con­corda com elas», afirmou, alu­dindo à pro­posta que o go­verno PSD/​CDS fez de corte de 10 por cento nas re­formas a pa­ga­mento (que só não foi adi­ante porque o TC o não per­mitiu), e, pos­te­ri­or­mente, ao re­fe­rido com­pro­misso com Bru­xelas de um corte de 600 mi­lhões de euros na Se­gu­rança So­cial.

E res­pon­dendo à afir­mação do de­pu­tado Marco An­tónio Costa de que o PSD já não propõe cortes nas pen­sões a pa­ga­mento porque o «País já não está em si­tu­ação de emer­gência», An­tónio Fi­lipe lem­brou que os cortes por aquele pro­postos na le­gis­la­tura an­te­rior «eram cortes de­fi­ni­tivos, não eram tran­si­tó­rios», ou seja, não se tra­tava nada de acorrer a uma «si­tu­ação de emer­gência».

Re­futou também o ar­gu­mento in­vo­cado pela ban­cada la­ranja de que a re­dução de 600 mi­lhões na Se­gu­rança So­cial cor­res­pon­desse a cortes nas pen­sões. «Se não são cortes, digam lá o que era», de­sa­fiou, re­cor­dando que nos úl­timos quatro anos o exe­cu­tivo PSD/​CDS não fez outra coisa que não fosse impor cortes na Se­gu­rança So­cial.

Em suma, para a ban­cada co­mu­nista, o PSD não trouxe «nada de útil, de cons­tru­tivo ou de po­si­tivo a este de­bate», como pro­pa­lara na sua in­ter­venção Marco An­tónio Costa.

Ata­ques sis­te­má­ticos

Têm sido vá­rios os me­ca­nismos através dos quais os su­ces­sivos go­vernos, com des­taque para o an­te­rior do PSD e do CDS, foram pau­la­ti­na­mente de­gra­dando os dis­po­si­tivos de pro­tecção so­cial, pro­cesso le­vado a cabo em pa­ra­lelo com o alar­dear de an­te­vi­sões ne­gras sobre o fu­turo da Se­gu­rança So­cial, agi­tadas sob o signo do risco de fa­lência e de in­sus­ten­ta­bi­li­dade fi­nan­ceira, se­gundo os seus au­tores.

Rita Rato lem­brou que à bo­leia dessa su­posta «in­sus­ten­ta­bi­li­dade fi­nan­ceira» pro­cedeu-se ao au­mento da idade de re­forma, in­tro­duziu-se o factor de sus­ten­ta­bi­li­dade, foram efec­tu­ados cortes no abono de fa­mília, no sub­sídio de de­sem­prego, entre ou­tras pres­ta­ções so­ciais, e nas «pen­sões de quem des­contou uma vida in­teira».

Por de­trás de todas as me­didas, na pers­pec­tiva da de­pu­tada co­mu­nista, um ob­jec­tivo es­teve sempre pre­sente: «fra­gi­lizar a Se­gu­rança So­cial para assim pro­mover os fundos de pen­sões ou ou­tras apli­ca­ções fi­nan­ceiras em sua subs­ti­tuição, fa­vo­re­cendo os in­te­resses eco­nó­micos e fi­nan­ceiros que sempre viram na Se­gu­rança So­cial uma ape­te­cível fonte de ne­gócio».

Rita Rato con­si­derou ainda que, ao con­trário do que se tem pro­cu­rado fazer crer, não é do au­mento da es­pe­rança média de vida ou das re­formas e pres­ta­ções so­ciais que vêm ame­aças à Se­gu­rança So­cial.

A pri­meira e prin­cipal ameaça – essa sim uma ameaça ver­da­deira – é a «po­lí­tica que pro­move um mo­delo eco­nó­mico as­sente em baixos sa­lá­rios, re­cor­rendo ao de­sem­prego e à pre­ca­ri­e­dade la­boral como ins­tru­mentos es­sen­ciais para a sua con­cre­ti­zação».

E a esta ameaça, acres­centou, junta-se a uti­li­zação in­de­vida das «verbas do sis­tema pre­vi­den­cial da Se­gu­rança So­cial, as isen­ções, re­du­ções e be­ne­fí­cios atri­buídos no âm­bito da TSU, os per­dões de dí­vida». Estes, sim, são pro­ce­di­mentos que fra­gi­lizam a Se­gu­rança So­cial. E por isso, con­cluiu, é esse ca­minho que urge in­verter.

Agir para for­ta­lecer

A con­vicção de que a Se­gu­rança So­cial tem fu­turo ficou cla­ra­mente ex­pressa no de­bate pela voz da de­pu­tada co­mu­nista Rita Rato, que não deixou to­davia de re­co­nhecer que ao sis­tema estão co­lo­cados de­sa­fios.

E enun­ci­adas por si foram al­gumas das me­didas e li­nhas de acção que, do ponto de vista do PCP, per­mi­tirão en­frentar esses de­sa­fios em ordem a ga­rantir uma «Se­gu­rança So­cial ro­busta e só­lida, man­tendo o seu ca­rácter pú­blico, so­li­dário e uni­versal».

Des­taque, desde logo, para o com­bate ao de­sem­prego e à pre­ca­ri­e­dade, pro­mo­vendo a cri­ação de em­prego com di­reitos, va­lo­ri­zando e au­men­tando os sa­lá­rios. Desta forma, como as­si­nalou Rita Rato, opera-se não apenas a me­lhoria das con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores como se dá um efec­tivo re­forço no fi­nan­ci­a­mento da Se­gu­rança So­cial.

In­tervir no sen­tido de um efec­tivo com­bate à fraude, evasão e dí­vida à Se­gu­rança So­cial, bem como ao seu re­gime de pres­cri­ções, é outra im­por­tante di­recção de tra­balho que im­porta de­sen­volver, como im­por­tante é ga­rantir igual em­penho na luta contra o uso in­de­vido das verbas do sis­tema pre­vi­den­cial da Se­gu­rança So­cial.

Para o PCP – esse foi o com­pro­misso por si re­a­fir­mado no de­bate –, impõe-se ainda que se avance na «am­pli­ação e di­ver­si­fi­cação das fontes de fi­nan­ci­a­mento da Se­gu­rança So­cial».

 



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