Viva a luta dos trabalhadores franceses

João Frazão

Manuel Valls, pri­meiro-mi­nistro francês, em res­posta ao po­de­roso mo­vi­mento de massas que tem tido ex­pressão em greves e grandes ma­ni­fes­ta­ções por toda a França, afirmou que o he­di­ondo pro­jecto de Lei do Tra­balho é mesmo para im­ple­mentar, porque este pro­jecto é bom para os pa­trões, para os sin­di­catos e para os tra­ba­lha­dores.

Nesta afir­mação que, em si mesma, contém toda a la­daínha ide­o­ló­gica da con­ci­li­ação dos in­te­resses de classes an­ta­gó­nicas, o também di­ri­gente do PS francês (não se es­pante o leitor, nem faça essa cara de dú­vida, é mesmo do PSF!), deixou claro o que está em causa.

Dizia ele que este pro­jecto – que, na sua es­sência, li­be­ra­liza os des­pe­di­mentos e des­re­gula as re­la­ções de tra­balho, co­lo­cando a con­tra­tação ao nível das em­presas, onde a re­lação de forças é com­ple­ta­mente de­si­gual, a favor dos pa­trões, e onde, por exemplo seria ad­mi­tido alargar o ho­rário de tra­balho – é bom porque dá mais for­mação aos sin­di­catos e per­mite aos jo­vens uma re­mu­ne­ração ga­ran­tida de 480 euros.

Em pri­meiro lugar não ex­plica por que é que é bom para os pa­trões. Fi­caria um pouco mal dizer que eles vão ter que pagar menos para os tra­ba­lha­dores tra­ba­lharem mais e no fim des­pe­direm mais fa­cil­mente os que se lhes opu­serem.

Mas veja-se o re­quinte de afirmar que querem com­prar o apoio dos sin­di­catos (é disso que se trata), com a pro­messa de au­mento de for­mação. Assim se vê me­lhor o valor da ori­en­tação que temos, e que al­guns no nosso País in­sistem em con­tra­riar, de que o Mo­vi­mento Sin­dical deve ser, no es­sen­cial, fi­nan­ciado pelas quo­ti­za­ções dos tra­ba­lha­dores, exac­ta­mente para ga­rantir a sua in­de­pen­dência po­lí­tica e sin­dical.

Já quanto aos jo­vens, lê-se e nem se acre­dita. Como é pos­sível que se con­si­dere um avanço, num país em que o sa­lário mí­nimo ul­tra­passa os 1400€, ga­rantir aos jo­vens cerca de um terço desse valor?

Aqui está, em todo o seu es­plendor, a res­posta do ca­pi­ta­lismo à sua crise, agora na pá­tria da Co­muna de Paris, mas que é o exemplo do que vai por essa Eu­ropa fora – mais ex­plo­ração, mais em­po­bre­ci­mento, mais con­cen­tração e acu­mu­lação da ri­queza nos mesmos.

Os tra­ba­lha­dores fran­ceses são, pois, nesta ba­talha ti­tâ­nica, me­re­ce­dores de toda a so­li­da­ri­e­dade dos tra­ba­lha­dores de todo o mundo.

 



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