Resistência tenaz
Em vésperas da abertura do Euro de futebol, o movimento de contestação à lei do trabalho continua a abalar diversos sectores de actividade em França.
Sindicatos responsabilizam governo pelo conflito
A semana começou com fortes perturbações na circulação ferroviária.
Após o fracasso das negociações do acordo sobre a organização do tempo de trabalho, os sindicatos apelaram, na segunda-feira, à continuação da greve, exigindo uma convenção colectiva para todas as empresas do sector ferroviário e insistindo na retirada da «lei do trabalho».
O impacto da greve dos ferroviários traduz-se, segundo revelou a companhia pública de caminhos-de-ferros (SNCF), em perdas de 15 a 20 milhões por dia.
Entretanto, a contestação ao «pacote laboral» estendeu-se na semana passada ao sector dos resíduos com a paralisação do centro de tratamento e incineração de Ivry-Paris, o maior da região da capital francesa.
No sector petrolífero, apesar de o abastecimento das bombas de gasolina ter sido retomado, várias refinarias mantêm-se em greve, assim como importantes terminais marítimos.
Na região de Paris, o Metro e as linhas suburbanas são afectadas pela greve por tempo indeterminado, iniciada dia 2.
Face à avalanche de protestos, o governo procurou dividir o movimento, tendo chegado a acordo com os controladores aéreos. O primeiro-ministro Manuel Valls chegou a anunciar o fim iminente do conflito no sector ferroviário, garantindo a salvaguarda dos direitos dos trabalhadores, e apelou ao sentido de responsabilidade dos pilotos da Air France que convocaram uma greve entre os dias 11 e 14.
Por seu turno, a frente sindical, composta por sete organizações (CGT, FO, FSU, Solidaires, UNEF, UNL e FIDL) responsabiliza o governo pela situação de bloqueio, sublinhando que a luta contra a nova legislação laboral goza do apoio da maioria da população.
Num comunicado conjunto, divulgado dia 3, a frente sindical salienta que desde o início do conflito o governo já foi obrigado a ceder a reivindicações sectoriais legítimas.
Sindicatos abertos ao diálogo
No entanto, prossegue o texto, o governo «está obstinado em não abrir mão da lei [do trabalho], em particular no que respeita ao primado dos acordos de empresa sobre os acordos sectoriais e a lei geral, à chantagem, por meio de acordos, sobre a manutenção e criação de postos de trabalho, aos referendos de empresas, à facilitação dos despedimentos».
Os sindicatos frisam que estes são os pontos que estão no coração da luta e a razão pela qual exigem a retirada do projecto e o início de negociações.
As centrais sindicais lembram ainda que aguardam, desde 20 de Maio, resposta ao pedido de audiência com o presidente da República.
Para a próxima semana, dia 14, esta marcada uma grande manifestação em Paris, decorrendo até lá uma votação em todas as empresas, serviços públicos e estabelecimentos de ensino sobre a nova lei do trabalho.