Memórias de resistência
Os 40 anos da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) foram assinalados com diversas iniciativas em vários pontos do País.
A 30 de Abril, no restaurante «A Valenciana», em Lisboa, estiveram 45 sócios e simpatizantes da organização herdeira da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos. Marília Villaverde Cabral lembrou «vários nomes que não queremos que a história esqueça», fundadores da URAP, como «Alcina Bastos, Armindo Guimarães, Augusto Velês, Cecília Areosa Feio, Eugénia Varela Gomes, Faria Borda, Francisco Miguel, Manuel Alpedrinha, Maria das Dores Cabrita, Piteira Santos, Ramon de la Féria, Sá Marques, Salvador Amália e tantos outros que ajudaram a fundar a URAP».
A coordenadora da URAP recordou os momentos altos da actuação da União de Resistentes, nomeadamente a adesão à Federação Internacional de Resistentes (FIR), a luta contra a abertura de um pseudo Museu de Salazar, em Santa Comba Dão, e um encontro internacional, em Junho de 2008, sob o lema «A democracia face ao branqueamento e reabilitação do fascismo», com a presença do presidente da FIR, o belga Michel Vanderborght.
«Foi também de grande importância, em 2009, a visita guiada de 40 antifascistas organizados pela URAP ao Tarrafal, que homenagearam os 32 heróicos combatentes assassinados pelo fascismo, junto às suas lápides, naquele campo de concentração», salientou Marília Villaverde Cabral, lembrando que aquela visita coincidiu com o Simpósio Internacional, no qual a URAP também participou, a convite do primeiro-ministro de Cabo Verde.
A URAP esteve ainda presente nas comemorações dos 40 anos do 25 de Abril e dos 70 anos do fim da II Guerra Mundial, altura em que a Tocha da FIR percorreu o nosso País. Integra anualmente «O Comboio dos 1000», viagem organizada pela FIR em colaboração com a Organização de Veteranos da Bélgica e a Fundação Auschwitz, na qual mil jovens de toda a Europa visitam o Campo de Concentração de Auschwitz.
Ponto central da actividade da URAP é, por outro lado, o contacto com os jovens, contando-lhes como os portugueses viviam e lutavam nos 48 anos de fascismo e como ocorreu a Revolução do 25 de Abril de 1974. Aborda-se ainda o que foram estes últimos 42 anos e, principalmente, o que se espera deles como continuadores da democracia e da liberdade em Portugal.
Vítimas do fascismo
No Porto, o núcleo da URAP realizou, também no dia 30, no Museu Militar, a cerimónia de lançamento da primeira pedra do projecto «Do Heroísmo à Firmeza – percurso na memória da casa do PIDE no Porto (1936/1974)».
Maria José Ribeiro, ela própria uma resistente das que ali estiveram presas e foram torturadas, sublinhou o longo caminho percorrido até à presente «oportunidade de dotar a cidade e o Norte de um memorial que levante do esquecimento milhares de vítimas do fascismo», tendo por isso valorizado as parcerias estabelecidas entre a URAP e a Direcção Geral de Arquivos (Torre do Tombo), ali representada pelo director Silvestre Lacerda. Salientou, por outro lado, a necessidade de conjugar e conseguir, agora, vontades e apoios concretos para a implantação do projecto.
Na cerimónia interveio ainda Mário Mesquita. O arquitecto falou das várias fases de implantação do projecto e reforçou a ideia do envolvimento colectivo e da importância da recolha de testemunhos documentais, orais e objectos.