Precedentes inaceitáveis

Jorge Cordeiro

As instituições diversas que têm como missão garantir os mecanismos que assegurem que a trajectória de saque aos recursos dos estados e dos povos por conta dos interesses e ganhos do capital transnacional se faz sem sobressaltos prosseguem diligentemente a tarefa que lhes atribuíram. Entre relatórios primaveris da Comissão Europeia, raspanetes ao vivo e in loco do presidente do BCE, avaliações pós «memorando de entendimento» é farta a vilanagem. Não fosse a turba ser insuficiente aí vemos, de regresso à molhada, o ex-ministro Vítor Gaspar que, após a comissão de serviço no governo de Passos e Portas e a soldo dos interesses do FMI de novo recém se encontra devolvido à barriga de onde saiu. Em relatório do FMI produzido pelo departamento que Gaspar lidera, o que por si só testemunha da idoneidade do citado texto, ei-lo afirmando que «os problemas orçamentais só se resolvem com mais crescimento». Não fossem os observadores mais desprevenidos julgarem, conhecida a férrea perspectiva contraccionista imposta pelo então ministro ao nosso País com os resultados devastadores que são conhecidos, ter sido Gaspar tolhido por algum golpe de sol mais intenso, é o próprio que se apressa a repor tudo na melhor ordem, ou seja formulada que foi a tese geral, aí está acompanhada da devida excepção para assegurar que Portugal se mantenha no terreno do declínio pelo qual tanto se esforçou.

Demonstrada que ficou nos tempos mais recentes as patranhas sobre alegadas saídas limpas, conhecido que é o regime de vigilância a que o País continua submetido, verificada que é a desenvergonhada intromissão e pressão que episódios como os da presença de Draghi no Conselho de Estado ilustram (por mais que esse «interessante precedente» apareça aos olhos de Marisa Matias e do Bloco), testemunhado que tem sido ao longo de décadas de integração europeia os seus resultados no plano social e económico, é cada vez mais claro que o desenvolvimento soberano exige como uma única atitude a firme rejeição dos constrangimentos e condicionamentos externos e o combate a visões e modelos federalistas venham de onde vierem.




Mais artigos de: Opinião

O «realejo mediático» e o Belloso

O realejo é uma máquina de música tocada à manivela, que repete a mesma melodia. Em Portugal, o poder económico-mediático detém e manipula o realejo da comunicação de massas e impõe as mistificações convenientes ao capital supranacional...

GPS avariado

O GPS (Global Positioning System) em causa é um sistema de localização de um ponto na superfície da Terra. Vem aqui a propósito das prosas semanais no jornal da SONAE do deputado do PS no PE Francisco Assis. Não sendo tematicamente muito variadas nem particularmente...

O que está em causa?

Para quem dúvidas tivesse sobre o que está efectivamente em causa na actual situação no Brasil, o acompanhamento do debate e aprovação da admissibilidade da destituição da presidente Dilma Rousseff pelo parlamento brasileiro no passado dia 17 de Abril constituiu...

Até

A União Europeia (UE) exibe uma esquizofrenia em expansão, que os sorrisos melífluos dos próceres já não conseguem iludir. Os exemplos crescem. Enquanto os responsáveis da UE vão balbuciando frouxamente o apoio aos refugiados que desembarcam diariamente nas...

Um contributo para<br>o debate sobre a ADSE

Nunca se falou tanto do estatuto do regime de Assistência na Doença aos Servidores do Estado (ADSE) como nos últimos meses, particularmente por parte dos que olham para a ADSE não com o objectivo de encontrar soluções que garantam a sustentabilidade deste subsistema público de saúde, ou por qualquer interesse na melhoria do acesso aos cuidados de saúde para os seus 1,3 milhões de beneficiários, mas apenas com a preocupação de garantir a consolidação da ADSE como instrumento de financiamento dos grupos privados da saúde.