Até
A União Europeia (UE) exibe uma esquizofrenia em expansão, que os sorrisos melífluos dos próceres já não conseguem iludir. Os exemplos crescem.
Enquanto os responsáveis da UE vão balbuciando frouxamente o apoio aos refugiados que desembarcam diariamente nas costas gregas, à sorrelfa negoceiam (e compram) um acordo com a Turquia para receber os refugiados «de volta», a troco de dinheiro e cedências ao regime cripto-fundamentalista de Erdogan, o primeiro-ministro turco, e afrontando leis internacionais de asilo, tidas como invioláveis nos estados de direito democrático – os países que integram a UE, em pressuposto.
Enquanto cedem, perdoam e ultrapassam os limites e exigências nos défices e nas «políticas sociais» do Reino Unido, só para o conservarem na UE (coisa que, já agora, se decidirá no referendo de Junho próximo), na Grécia impuseram um diktat vergonhoso, impagável e destruidor para esmagar a «insolência» de o governo de Tsipras ter protestado contra a austeridade sem fim, mais os casos de Portugal, Irlanda e Espanha (os famosos «PIGS»), onde as mesmas imposições são servidas à la carte, conforme as simpatias dos suzeranos pelos acomodamentos dos respectivos governos às suas determinações reaccionárias.
Às segundas, quartas e sextas, responsáveis do FMI, da UE ou do BCE reconhecem «os erros» e apontam «os malefícios» dos resgates impostos aos «PIGS», quer nas suas economias como nos seus povos; às terças, quintas e sábados, os responsáveis do FMI, da UE ou do BCE arranjam umas «projecções», uns «estudos», uns «relatórios» que colocam os «PIGS», por grosso ou caso a caso, na berlinda dos «incumprimentos» e na ameaça do «reforço de medidas» austeritárias.
É o que de momento estão a fazer ao nosso País, com um senhor do FMI (que se segue à tomada de posições contrárias da sra. Lagarde) a repisar a tecla dos «incumprimentos», da «flexibilização» e do «reforço de medidas» para «prevenir desvios» – aliás, na linha da intromissão grosseira na política portuguesa feita pelo presidente do BCE, Mario Draghi, na sua visita a uma reunião do Conselho de Estado português, onde não se coibiu de considerar que «não se justifica anular reformas anteriores», considerando «reformas» os cortes brutais nos salários, pensões e subsídios.
Os que mandam na União Europeia – a Alemanha e os seus acólitos – exercem um poder discricionário, que define um caminho único e imperativo, para o qual não foram eleitos, e em nome de uma união de países cujos governos se submeteram a todos os ditames – Tratado Orçamental, entre outros – sem se atreverem a expor tais decisões ao voto dos seus povos, em referendo.
A esquizofrenia da UE acentua-se com a sua duplicidade: democracia nos discursos, garrote neoliberal nos actos.
Até o desmoronamento se pronunciar.