O «realejo mediático» e o Belloso

Carlos Gonçalves

O realejo é uma máquina de música tocada à manivela, que repete a mesma melodia. Em Portugal, o poder económico-mediático detém e manipula o realejo da comunicação de massas e impõe as mistificações convenientes ao capital supranacional e ao seu serviço.

Por cá, a TVI navega no encantamento de que «fez» o actual PR – tal como a TV Globo se gaba de fazer e desfazer presidentes do Brasil (veremos!) – mas o facto é que um verdadeiro «realejo mediático» está a tocar a música da «popularidade» do Presidente M.R.Sousa e da «cumplicidade» com o Governo PS, para mais tarde interromper este quadro político e as medidas tomadas – insuficientes mas positivas – e impor o «bloco central» e toda a política de direita.

O «realejo mediático» toca para credibilizar as chantagens da UE, BCE e FMI, para impedir que avancem as políticas da «posição conjunta», para impor «medidas adicionais», mais cortes, concentração de riqueza, colapso de mais bancos, resgate financeiro e mais constrangimentos que tornem impossível o novo quadro político e tragam a aceitação – por outros que não o PCP –, do pacto de agressão e submissão do País.

O «realejo mediático» chora pelo ex-primeiro-ministro, desvaloriza as medidas em curso e oculta a proposta do PCP de uma política patriótica e de esquerda, mas promove sem pudor o BE, como se quisesse impor uma nova relação de forças entre PS e BE e impedir o crescimento do PCP. Acreditam os senhores do realejo que isso os favorece? E porquê?

O «realejo mediático» fez-me ler um tal Belloso que escreve no DN, vem do BCE, dos mercados financeiros, duma multinacional mediática, das «direitas de Espanha» e do (neo)liberalismo, diz do Papa que é um «diabo no Vaticano» de «esquerdismo antiquado», diz da situação social e do novo quadro político em Portugal e do que se passa no seu país, algo próximo do «fascismo possível», é um «democrata» do «encanto da burguesia», nas suas próprias palavras.

São estes os gurus do realejo – vale tudo pelo grande capital e pela ditadura do poder económico nos media. Mas não se entusiasmem, por mais que o grande capital dê à manivela do «realejo mediático», os trabalhadores e o povo voltarão sempre a tocar a sinfonia da libertação.




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