Franceses prosseguem a luta contra reforma laboral

Escalada do protesto social

Dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se, dia 9, por toda a França, na quarta semana consecutiva de protestos contra a reforma laboral.

Movimento «Noites em Pé» alastra a 200 cidades

O movimento, iniciado em 9 de Março por sindicatos e organizações estudantis, ganhou uma crescente adesão em diferentes sectores da sociedade, atingindo a sua expressão máxima até ao momento com o dia de greves e manifestações de 31 de Março, em que perto de 1,2 milhões de pessoas participaram em acções pela retirada do projecto antilaboral do governo de Hollande-Valls.

Foi também nesse dia que arrancou um movimento de protesto social paralelo, inspirado nos «indignados espanhóis» do 15-M. No final da jornada, centenas de pessoas, jovens na sua maioria, decidiram permanecer durante toda a noite na praça da República, em Paris, mantendo acesa a chama da contestação.

Em poucos dias, os participantes nas assembleias populares passaram de centenas a milhares. Tendas e outros equipamentos provisórios, incluindo uma cantina, foram instalados na praça, onde a animação se prolonga pela noite dentro, até a polícia chegar de madrugada para desalojar.

Nas semanas seguintes, iniciativas semelhantes começaram a ser reproduzidas noutras cidades de França. Sob a designação «Nuit Debout» («Noite em Pé»), o movimento inorgânico alastrou a mais de 200 cidades francesas no passado fim-de-semana, tendo ecos em várias capitais europeias.

A luta contra a reforma laboral e o agravamento da precariedade foi o tema que catalisou activistas de várias sensibilidades, mas logo surgiram outras preocupações sobre a actualidade política, como o estado de emergência, em vigor desde os atentados de 13 de Novembro, a denúncia do tratamento desumano dos refugiados, o clima de medo e intimidação alimentado pelo poder político, a crítica ao sistema capitalista e à economia liberal em geral.

Os debates abertos e informais realizados na praça da República começaram a ser transmitidos via Internet e seguidos por dezenas de milhares de pessoas. A mensagem das «Noites em Pé» é um apelo à mudança de modelo e de sistema.

Governo recua

Pressionado pela crescente contestação social, na segunda-feira, 11, o governo Hollande-Valls deu mais um passo para amenizar a polémica reforma laboral e responder a algumas reivindicações dos jovens.

Numa reunião com representantes de organizações juvenis, o primeiro-ministro Manuel Valls anunciou um plano para combater a precariedade e reconheceu que «é preciso escutar» os movimentos sociais que expõem «preocupações profundas».

As medidas esboçadas prevêem um pacote de 500 milhões de euros para subvenções e ajudas a jovens. Após a conclusão dos estudos, os formandos terão direito a um subsídio de 460 euros mensais, durante quatro meses.

O Estado será fiador do aluguer de habitações por menores de 30 anos, subvencionará os salários dos jovens aprendizes no montante de 80 euros e as bolsas de estudo terão um aumento de dez por cento.

Esta bateria de apoios foi bem recebida pela UNEF principal estrutura estudantil de França, tanto mais que o governo ainda acolheu outra das suas reivindicações, aceitando criar um sistema que aumente as contribuições patronais às empresas que recorram a contratos temporários.

Mas apesar das cedências do governo, o dirigente da UNEF, William Martinet, deixou claro que a sua organização continuará a participar nos protestos contra a reforma laboral.

A mesma resposta foi dada pelos sindicatos que já convocaram mais uma grande jornada de luta para dia 28 contra a iníqua lei, que começará a ser debatida na Assembleia Nacional a 3 de Maio.




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