Silêncios

João Frazão

O Bloco de Esquerda e os seus principais dirigentes distraem-se amiúde relativamente aos seus inimigos principais, decidindo destilar o seu azedume contra o PCP.

Nós, que temos memória, não nos esquecemos que há dez anos, Francisco Louçã afirmou que «um modelo pavoroso, de destruição da liberdade do povo e da própria ideia de socialismo – é o que corresponde à história inteira do PCP». O percurso de 95 anos do PCP fala por si e dispensa qualquer comentário a tal aleivosia.

A propósito de um voto na Assembleia da República sobre uma decisão da justiça angolana, que o PCP votou contra, entre outras razões expressas em declaração de voto, por «respeito da soberania da República de Angola, do direito do seu povo a decidir – livre de pressões e ingerências externas – o seu presente e futuro, incluindo da escolha do caminho para a superação dos reais problemas de Angola e a realização dos seus legítimos anseios», Catarina Martins escreveu no Twiter que «se um dia formos chamados a defender 17 jovens comunistas presos na Hungria ou Ucrânia por lerem um livro, também não ficaremos em silêncio».

CM foi tão precisa que até parece uma explicação pelo silêncio do BE perante a destruição de sedes de sindicatos e do Partido Comunista da Ucrânia ou perante a ilegalização deste, decidida em Dezembro do ano passado, bem visível na abstenção no voto apresentado pelo PCP sobre a situação na Ucrânia em 2014, ou face à perseguição e tentativa de ilegalização do Partido Comunista dos Trabalhadores da Hungria.

Com esta nota no Twiter, CM não apenas revela dificuldades que o BE tem em aceitar as posições diferentes, de princípio e coerentes com a opção internacionalista de sempre, do PCP, como revela má consciência por, apesar de saber que os comunistas naqueles dois países enfrentam – como muitos outros e com a coragem que aos revolucionários é reconhecida – o ódio das forças mais reaccionárias do capital, se manter calada, preferindo alinhar com as causas da moda, independentemente de quem as alimenta, pondo-se ao lado da posição oficial do Departamento de Estado dos EUA e da estratégia, dos interesses e das operações do imperialismo.

Há silêncios que fazem muito barulho!




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