Teima a tresler

Henrique Custódio

Passos Coelho continua a divagar pelo País de bandeirinha na lapela e acintes em tom de barítono – a sua especialidade –, espalhando a boa nova de que ganhou as eleições do passado mês de Outubro de 2015, apesar de o seu governo, todo juntinho no PaF, ter obtido 38,5 por cento contra os 61,5 por cento de toda a oposição, o que, naturalmente, resultou na formação do Governo PS/Costa devido à nova correlação de forças na Assembleia da República.

Visto de outro ângulo, também se pode comparar os resultados eleitorais dos partidos do PaF em 2011 e em Outubro de 2015: em 2011, o PSD e o CDS obtiveram 50,37 por cento dos votos e em 2015, quatro anos depois de desenfreada destruição de direitos, salários e pensões e já formalmente coligados, não passaram dos 38,5 por cento. São menos 12 por cento dos votos e quase menos um milhão de votantes, o que é obra, mesmo descontando as famosas volubilidades dos eleitorados.

Pelos vistos, estas evidências podem ser ditas mil vezes a Coelho, que o homem não sai da toca em que se encafuou.

Manhoso, prefere atirar pedras ao que pretende serem os telhados de vidro do vizinho (o Governo PS/Costa), ignorando duas regras fundamentais, para os que atiram pedras.

Primeiro (e lição do aforismo), nunca se deve atirar pedras aos telhados de vidro dos outros, porque podemos recebê-las de volta, sobre os nossos próprios telhados de vidro.

Segundo, são tão vastos e tão frágeis os telhados de vidro do defunto governo do PSD/CDS, que apenas por inaudita irresponsabilidade o seu ex-primeiro-ministro pode cometer a ousadia de apedrejar os outros.

Ousar, por exemplo, pedir contas sobre «intervenções na banca privada» é uma colossal irracionalidade vinda do responsável de um governo que manobrou o BES até à derrocada brutal com perdas públicas de, pelo menos, cinco mil milhões de euros, ou (e ainda) armadilhou o Banif com prejuízo de, pelo menos, mil e novecentos milhões de euros para o erário público – e isto sem falar de outros prolegómenos na banca privada cometidos pelos funâmbulos do governo Passos/Portas.

Não vale a pena invocar a falta de vergonha a Passos Coelho, pois o homem já mostrou que, dela, possui um stock inesgotável, não parecendo haver ignomínia ou desonra políticas que lhe estremeçam a inacreditável postura de primeiro-ministro no exílio, como já o catalogaram atinadamente, «negra-madeixa-ao-vento, bandeira-maruja-ao-lado», como o rapaz da camisola verde.

Quis o destino ironicamente concentrar num único pote (o do PaF) as forças eleitorais da direita, em Portugal, no ano da graça de 2015, nos idos de Outubro. O resultado foi concludente e contundente: essa direita valeu 38,5 por cento dos votos expressos.

Com isto, teimar em tresler os resultados eleitorais além de ser casmurrice, roça a imbecilidade.

 



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