«Jesus também tinha 2 pais»

Margarida Botelho

Foi esta a frase, acompanhada de uma representação de Jesus Cristo, que o

Bloco de Esquerda escolheu para um cartaz para assinalar a aprovação da legislação que prevê a adopção de crianças por casais homossexuais.

Quanto à valorização do tema em si, nada a apontar. O PCP votou a favor dos projectos-lei que iam neste sentido, e valoriza os avanços que têm sido alcançados contra a discriminação em função da orientação sexual. Quanto à utilização do humor ou da ironia no combate político, nada contra – antes pelo contrário, usamo-los bastantes vezes.

Já quanto à forma escolhida, não podemos acompanhar. Demarcamo-nos. O PCP pauta a sua acção pelo respeito pelos sentimentos e convicções religiosas do povo em que se insere, e dos outros povos do mundo. Não usa, e não quer usar, mensagens políticas que possam ser consideradas ofensivas ou manipulatórias das crenças das pessoas.

A escolha por parte do BE desta frase é ilustrativa do seu posicionamento e da sua natureza: um slogan bem esgalhado, mais uns minutos de televisão, uma polémica fanfarrona, um tema da moda, justificam tudo. Mesmo que prejudique a causa que querem defender.

A resposta da coordenadora do BE quando confrontada com o desagrado geral com o seu cartaz é disso mesmo exemplar. Disse Catarina Martins que o cartaz não era invenção do BE, mas sim a tradução de uma frase do movimento LGBT internacional, e que, se não tinha sido percebido, era um erro. De uma penada, a coordenadora do BE sacode a água do capote – a culpa é dos outros… – e associa o acerto da mensagem à forma como é validada, em particular pelos órgãos de comunicação social.

Seja qual for o tema, as convicções religiosas de cada comunidade merecem respeito. E se este critério geral, de bom senso, se aplica à vida em sociedade em geral, no que diz respeito à acção política e institucional deve merecer ainda mais cuidado e atenção.

A luta contra a discriminação dos homossexuais, contra a homofobia, pelo direito a viver uma sexualidade plena, assumida e feliz, tem muitas décadas e muitos protagonistas. Não nasceu com o Bloco de Esquerda, nem se resume ao Bloco de Esquerda. Felizmente.




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