Trampolinices

Henrique Custódio

O regulador da aviação civil (ANAC) veio dizer o óbvio: a venda da TAP ao consórcio do sr. Neeleman e do sr. Pedrosa, da Barraqueiro, está ferida de ilegalidade, pois «não é claro» quem manda na TAP, apesar de ter sido anunciado (mas não demonstrado) que o sr. Pedrosa é que detinha 51 por cento do negócio.

Assim, o negócio ficou suspenso e a administração da TAP restringida à gestão corrente, estando impedida de fazer aquisições de aeronaves, alterações de rotas ou qualquer acto de administração nos próximos três meses.

A própria ANAC já tinha advertido as autoridades portuguesas – ou seja, o governo de Passos/Portas – sobre a determinante exigência de Bruxelas de que uma companhia aérea europeia apenas poderá ser adquirida por capitais maioritários europeus.

Daí a entrada em cena do senhor Humberto Pedrosa, vindo de uma chafarica rodoviária chamada Barraqueiro, que fazia as ligações entre Torres Vedras e Lisboa ainda durante o fascismo, que escaparia à nacionalização por um triz, pois apenas possuía 80 veículos num mínimo de 100, e se transformaria numa «grande empresa» assenhorando-se de veículos e estruturas nas privatizações a retalho da Rodoviária Nacional.

Era o sócio adequado para o brasileiro Neeleman, outro fura-vidas de ascendência norte-americana e brasileira, dono de um pequeno império de aviação civil construído entre EUA e Brasil, actualmente com variados «buracos» na sua gestão (incluindo a pré-falência da sua companhia aérea Azul) e, sobretudo, na solidez financeira. Daí a inclusão no consórcio da Gateway – aspirante à compra da TAP – do sr. Pedrosa da Barraqueiro, tido por «investidor europeu» no negócio do sr. Neeleman e, teoricamente, contribuinte com a maioria do capital.

Só que, pelos vistos, nem essa contribuição maioritária do capital por parte do sr. Pedrosa está demonstrada nem, muito menos, a direcção maioritária de um negócio aéreo que, manifestamente, nunca foi a sua área de actuação.

Em contrapartida, o sr. Neeleman erguera o seu «império» com a traquitana aérea, o que levantou fortes suspeitas à ANAC sobre quem, efectivamente, mandava naquele negócio da compra da TAP, questão que se tem de apurar sem equívoco.

Já apareceu um senhor do PSD, deputado, pois claro, a protestar que «apenas faltavam uns papéis» para que «as dúvidas» da ANAC fossem dissipadas, só não explicando por que, em matéria tão melindrosa como a viabilidade de um negócio, as faltas registadas se resumissem «apenas a uns papéis» que, por outro lado, nunca poderiam ser uns papéis quaisquer, porque «uns papéis quaisquer» não podem ter peso para inviabilizar um negócio de tantos milhões de euros...

Enfim, as trampolinices do costume.

No caso, há que lhe pôr travão imediato, cumprir a lei e fazer retornar a TAP à esfera pública.




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