Rechaçar a nova ofensiva social
Milhares de pessoas manifestaram-se em Atenas e dezenas de outras cidades gregas, dia 4, durante a primeira greve geral do ano contra os cortes na Segurança Social.
Trabalhadores gregos lutam contra cortes nas pensões
A paralisação foi convocada pelos principais sindicatos em resposta às alterações no sistema de Segurança Social, anunciadas pelo Governo do Syriza/ANEL, na sequência das exigências dos credores internacionais, ou seja, a União Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional.
Devido à alta taxa de desemprego, actualmente há apenas 1,7 trabalhadores no activo por cada pensionista. Segundo o Ministério do Emprego, 17,5 por cento do PIB são destinados às pensões, contra 11,5 por cento em média na União Europeia.
Os «credores» reclamam um corte nas pensões equivalente a um por cento do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, cerca de 1800 milhões de euros.
Ora, desde a intervenção da troika na Grécia, em 2010, as pensões de reforma já sofreram 11 cortes consecutivos, que reduziram o valor das prestações em 40 por cento.
Sabendo que grande parte dos pensionistas aufere montantes de miséria, o governo chefiado por Alexis Tsipras acena com a criação da pensão mínima, no montante de 384 euros, ao mesmo tempo que pretende reduzir o tecto das pensões mais elevadas de 2700 para 2300 euros.
O projecto já é conhecido como «lei-guilhotina», por cortar pensões, aumentar as contribuições dos trabalhadores, reduzir o financiamento do Estado ao sistema público de Saúde e Segurança Social e subir a idade da reforma para os 67 anos.
Ampla participação
Pela primeira vez em muito anos, a greve geral foi seguida pela generalidade dos pequenos comerciantes e empresários, pelos taxistas e várias profissões liberais, e até o mercado central de Atenas esteve parcialmente encerrado.
Os transportes públicos quase não circularam, incluindo os caminhos-de-ferro, os navios permaneceram amarrados ao cais durante 48 horas e as companhias de aviação Olympic Airways e Aegean Air foram forçadas a cancelar dezenas de voos internos devido à greve parcial dos controladores aéreos.
Tal como nas duas greves gerais anteriores, o partido Syriza demarcou-se do executivo e apoiou a jornada de luta em defesa do «carácter público redistributivo e universal do sistema de pensões», apelando ao governo a não ceder às pressões dos credores.
Na capital, Atenas, a Frente Militante de Todos os Trabalhadores (PAME) realizou uma enorme manifestação que se estendeu por três quilómetros até desembocar frente ao Parlamento. A central sindical promoveu acções e desfiles em mais cerca de 70 cidades.
Em vários pontos da Grécia, os agricultores decidiram levantar alguns bloqueios de estradas, que mantêm desde 22 de Janeiro, para facilitar a participação nas manifestações, onde marcaram presença. Porém, anunciaram logo um novo bloqueio de estradas, aeroportos, portos e fronteiras, que teve lugar no último sábado.
Ao lado de jovens e pensionistas, de funcionários públicos e trabalhadores de diferentes sectores, nas manifestações integraram-se também representantes das chamadas profissões liberais, como médicos, farmacêuticos ou advogados.
Na véspera, o protesto teve a adesão dos profissionais da imprensa, deixando o país sem noticiários e as bancas sem jornais e revistas no dia seguinte.
Em declarações à Efe, a confederação dos sindicatos do sector público (ADEDY) não revelou percentagens de adesão, mas garantiu que todas as estruturas sindicais tinham apoiado a greve.
No sector privado, a GSEE anunciou uma adesão global acima dos 95 por cento.
Solidariedade da CGTP-IN
Numa mensagem aos trabalhadores gregos e às suas organizações sindicais, a CGTP-IN expressou «a activa solidariedade dos trabalhadores portugueses e da sua Central Sindical» e «um forte apoio à sua luta e resistência».
No texto, a Intersindical Nacional qualifica a greve geral como «uma luta justa e de carácter internacionalista: contra a imposição dos "memorandos" da UE/FMI e de sucessivos governos que visam levar tão longe quanto possível a sua exploração e empobrecimento para transformar esse rumo na regra internacional».
A CGTP-IN condena «as intenções do governo grego, da UE e do FMI de levarem a cabo a destruição dos direitos dos trabalhadores na Segurança Social», salientando que «a resistência dos trabalhadores gregos é de importância chave para parar a destruição desta conquista histórica».
«Este é um momento de luta difícil e exigente para os trabalhadores gregos e para os trabalhadores em geral que exige organização e solidariedade para contrariar uma ofensiva generalizada contra os seus direitos, impondo-lhes o retrocesso histórico e civilizacional».