Retrocesso

Vasco Cardoso

Se os recentes e trágicos acontecimentos relacionados com a morte de um paciente por falta de assistência aos casos relacionados com acidentes vasculares cerebrais nos hospitais da zona de Lisboa nos dão conta do quão longe foi o processo de destruição do SNS, eles convocam-nos também para uma verificação mais larga da dimensão do profundo retrocesso para onde o nosso país foi conduzido nestes anos. Bem podem ser gastas horas de noticiários a dissecar pormenores sobre este caso, como se de algo isolado se tratasse, que a dimensão destes acontecimentos não conseguirá apagar o gesto criminoso das medidas sucessivamente tomadas.

Em quase tudo aquilo que diz respeito à vida da esmagadora maioria da população, o País andou para trás! E não podia ter sido de outra maneira, tendo em conta a receita que foi aplicada ao longo de décadas de política de direita. Uma receita cuja dose foi reforçada nos últimos anos durante o período dos PEC e do Pacto de Agressão e que levou a que, em nome do défice, da estabilidade do sistema financeiro, dos compromissos internacionais e de um sem número de outras coisas impingidas como dogmas, se tivesse ido tão longe no roubo de direitos, rendimentos e da própria dignidade do ser humano.

No seguimento das eleições de 4 Outubro e na continuidade das lutas travadas nos últimos anos, o povo português deu um passo, modesto, mas importante, para interromper este rumo. Mas tal como temos sublinhado, por si só, nem o Governo PS, nem o seu programa, asseguram a recuperação de direitos e muito menos a inversão do actual rumo. Apesar de algumas medidas positivas já aprovadas e de outras – cujos compromissos assumidos esperamos que sejam concretizados – situações como aquela que se verificou recentemente com o BANIF tornam evidente que, sem a ruptura com a política de direita, sem a derrota do poder dos monopólios, as expectativas que o povo português detém, serão defraudadas. Para os trabalhadores, para o povo português, o ano que agora se inicia transporta consigo exigências que, no plano da luta de massas, não são menores. Em 2016, a luta pela defesa, reposição e conquista de novos direitos, reivindicando junto do Governo e da Assembleia da República uma política alternativa, será uma exigência à qual os trabalhadores e o povo português não podem nem vão faltar.




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