O voto numa lógica de classe

Manuel Rodrigues

O ex-director-geral dos impostos terá afirmado que as mil famílias mais ricas, em Portugal, não estão a pagar os impostos que deviam. Estamos a falar de rendimentos acima de cinco milhões de euros e 25 milhões de euros em património.

Declarou ainda que o governo PSD/CDS, em 2014, terá desmantelado um grupo de inspectores tributários que já teria o assunto sob observação.

E, na verdade, a denúncia faz sentido. A captura do poder político pelo poder económico dá inevitavelmente nesta promiscuidade em que o grande capital usa o governo como instrumento ao serviço da acumulação e da concentração da riqueza e da (re)constituição dos seus gigantescos monopólios.

É esta a natureza da política de direita: para os poderosos, a evasão e a fraude e para os mais fracos a extorsão e o confisco, mesmo que pelo caminho fique um imenso rasto de sofrimento e de tragédias.

Vem isto a propósito da acção do governo PSD/CDS que os trabalhadores e o povo derrotaram, através de um persistente e vigoroso processo de luta que contou sempre com a determinante intervenção do PCP, que lhe cavou o isolamento social, a derrota eleitoral e a consequente queda.

Reduzidos à sua expressão de minoria na AR, sem o governo ao seu serviço e com um PR mais limitado nas suas possibilidades de desestabilização institucional, PSD e CDS decidiram agora «recomendar» o apoio ao candidato Marcelo Rebelo de Sousa, que, por sua vez, se continua a declarar candidato «independente».

Mas porque a lógica de classe não engana, fácil é perceber que Marcelo é o natural continuador da acção de Cavaco Silva e que o PSD e o CDS o querem na Presidência para reconquistar a maioria e o governo, e com os três poderes nas mãos, descartando-se da Constituição, aprofundar a política de saque aos mais fracos e de regabofe aos poderosos.

É, por isso, natural que o voto de todos os que se revêem na Constituição e nos valores de Abril seja em Edgar Silva. Mas também é natural que o candidato de eleição de Passos Coelho, Paulo Portas, Cavaco Silva e de grandes expoentes do grande capital seja MRS. Por mais que se declare «independente», a sua natureza de classe não engana.




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