Às escondidas

Margarida Botelho

A venda da TAP foi anun­ciada por co­mu­ni­cado para as re­dac­ções, de­pois de con­cre­ti­zada em se­gredo e às 11h30 da noite, por um go­verno de­mi­tido há dois dias.

Quase que ape­tecia deixar o texto por aqui e o resto do es­paço em branco, porque fica quase tudo dito, o es­cân­dalo é óbvio, e o re­gisto para me­mória fu­tura de até onde é pos­sível descer, fica feito.

Mas, ainda assim, dois breves apon­ta­mentos: um, para su­bli­nhar que está à vista o que é que PSD e CDS con­si­deram actos de gestão; o outro, para mos­trar para que é que Ca­vaco anda a tentar ga­nhar tempo.

PSD e CDS foram, ao longo de quatro anos, di­li­gentes ges­tores dos in­te­resses do grande ca­pital. En­tregar a TAP ao sector pri­vado deve pa­recer-lhes na­tural e in­dis­pen­sável, sim­ples e ex­pec­tável. Este acto também ajuda a per­ceber por que é que o cor­tejo de certos e de­ter­mi­nados em­pre­sá­rios, os seus em­pre­gados e os co­men­ta­dores aven­çados desses mesmos em­pre­sá­rios não pára de re­petir os es­tri­bi­lhos que ma­tra­queiam há quase mês e meio contra qual­quer so­lução go­ver­na­tiva que não seja a de PSD e CDS. Terem tido a ne­ces­si­dade de as­sinar a venda às es­con­didas mostra bem outra re­a­li­dade: o brutal iso­la­mento po­lí­tico e so­cial deste Go­verno, apoiado só e apenas pelos tais a quem servem. Este Go­verno não in­te­ressa ao povo nem ao País. In­te­ressa apenas e só grande ca­pital.

Ca­vaco tenta fingir que não deu por nada do que se passou na As­sem­bleia da Re­pú­blica no dia 10, com a de­missão do seu Go­verno. Ouve quem con­sigo con­corde, vai à Ma­deira como se nada se pas­sasse, manda o povo ver no site da Pre­si­dência da Re­pú­blica os seus «es­forços» para re­solver a crise. Tenta ga­nhar tempo para que o seu Go­verno deixe mais terra quei­mada.

Esta venda às es­con­didas de uma das mais es­tra­té­gicas em­presas na­ci­o­nais é apenas mais uma prova de que o que o PCP tem co­lo­cado se impõe como ab­so­luta ne­ces­si­dade: re­verter o pro­cesso de pri­va­ti­zação e de­fender o ca­rácter pú­blico da TAP; exo­nerar ur­gen­te­mente o Go­verno PSD/​CDS; e que o Pre­si­dente da Re­pú­blica no­meie e em­posse um novo go­verno que in­ter­rompa este ciclo de des­truição na­ci­onal.




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