Mesmo quando não parece

Vasco Cardoso

Marcelo Rebelo de Sousa «revelou» na passada semana que será candidato à Presidência da República, isto é, nada que o seu percurso de 15 anos de comentador televisivo não fizesse suspeitar. Durante os últimos 15 anos, primeiro na RTP e depois na TVI, Marcelo ocupou-se de falar à nação, a cada domingo, debitando as suas opiniões e sentenças sobre o País no tom de professor com que também gosta de ser chamado.

Desenganem-se os que pensam que esta tão prolongada quanto inédita presença televisiva se ocupou apenas de lhe granjear a «notoriedade» que lhe é reconhecida e de lhe preparar pacientemente o caminho que o levaria ao mais alto cargo da nação. Não! Marcelo foi e é uma espécie de facilitador da política de direita. Com ele, os sucessivos governos do PS e do PSD/CDS foram contando com a opinião benovolente, compreensiva e justificativa das medidas entretanto tomadas. Ocupando-se muitas vezes da pequena intriga e do mais superficial, a estratégia adoptada foi a de sempre suportar com os seus comentários o rumo de desastre nacional imposto ao País. Marcelo esteve com todas as privatizações, com as «soluções» encontradas para o BPN e para o BES, com as alterações à legislação laboral e os cortes nos salários, com as imposições da União Europeia e o euro, com os sucessivos PEC apresentados pelo PS, com a vinda da troika e o pacto de agressão, com a política do actual Governo que fez questão de apoiar recentemente envolvendo-se directamente na campanha eleitoral (como aliás fez em todas as outras sempre ao lado do PSD do qual é militante). E opôs-se, com a habilidade do costume, a todas as medidas e propostas que rompessem com esta política.

Mais do que os seus dotes de comunicador, foi o seu compromisso com o grande capital, que lhe garantiu as câmaras de televisão durante todo este período.

Num descuido em Março de 2008, numa «aula» a militantes da secção D do PSD Lisboa, Marcelo afirmou: «Os meus comentários são sempre tendencialmente favoráveis ao PSD, mesmo quando não parecem». E de facto, mesmo quando não parece, a actuação de Marcelo esteve sempre ao lado dos grandes interesses que dominam e sufocam o País. Os mesmos interesses que veriam com bons olhos a possibilidade de Marcelo vir a fazer de Cavaco.




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