Direitos sociais ameaçados
Vindas de vários pontos da Alemanha, cerca de 250 mil pessoas desfilaram, dia 10, em Berlim, contra os tratados de livre comércio entre os EUA e a União Europeia.
Domínio das multinacionais mina democracia
LUSA
A manifestação saiu pela manhã da estação central da capital alemã em direcção à porta de Brandemburgo, em cujas imediações se realizaram comícios e concertos.
Convocada há meses, a jornada contou com o apoio de vários partidos políticos, sindicais, organizações ecologistas e diverso tipo de associações. Dirigentes do Die Linke (A Esquerda) ou do Die Grune (Os Verdes) participaram na acção a que se juntaram alguns sociais-democratas de Berlim.
Apesar de o SPD (que integra a «grande coligação» com Angela Merkel) ser favorável ao Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP, nas sigla inglesa), a secção de Berlim defende uma posição contrária, tendo apelado à participação na manifestação.
Segundo o apelo divulgado na sua página na Internet, o SPD berlinense alerta que «no Outono de 2015, as negociações do TTIP e CETA [acordo comercial entre a UE e o Canadá] entram na fase quente em que podem minar a democracia e o Estado de direito, assim como a Saúde, a Segurança Social, a área da cultura e as normas de protecção do meio ambiente. Somos a favor dos tratados internacionais desde que seja para melhorar todas estas coisas e não o contrário».
A marcha foi encabeçada por um cavalo de Tróia com inscrições contra o TTIP. Entre a multidão de manifestantes apareceram cartazes contra a NATO, bem como várias alegorias, com destaque para a imagem de Angela Merkel a acender a mecha da bomba «TTIP», colocada dentro do Bundestag, o parlamento federal, símbolo da democracia.
Tendo paralisado durante várias horas o centro da cidade, esta foi a maior manifestação contra o TTIP e CETA realizada até ao momento na Europa, e uma das maiores a que a Alemanha assistiu nos últimos anos.
Embora tenha decorrido sem quaisquer incidentes, as autoridades colocaram no terreno um dispositivo de segurança com mais de mil agentes, com apoio aéreo de vários helicópteros.
Três milhões assinaram a petição
Na mesma semana, dia 7, a Iniciativa de Cidadania Europeia (ICE) «Stop TTIP» entregou na Comissão Europeia uma petição com 3,3 milhões de assinaturas, exigindo o fim das negociações do tratado de comércio e investimento entre a União Europeia e os Estados Unidos.
«Num ano, reunimos o triplo das assinaturas necessárias, o que demonstra a dimensão da crescente oposição europeia ao TTIP», afirmou Susan George, membro do comité cidadão da ICE.
Os activistas simbolizaram a entrega de 3 263 920 assinaturas provenientes de 23 estados-membros na rotunda Schuman, situada ao lado da sede da Comissão Europeia, colocando nos pratos de uma enorme balança as reivindicações dos cidadãos de um lado e os sacos cheios de euros do outro.
Os manifestantes criticaram «o secretismo inaceitável» que rodeia as negociações, proclamando que «a democracia é mais do que dinheiro».
Uma das organizadoras da iniciativa, Stephanie Roth, explicou que o TTIP «implicará um nivelamento por baixo dos padrões na agricultura, mas sobretudo um recuo da democracia que afecta todos, sejam agricultores ou médicos».
A ICE, que segundo os seus responsáveis, junta quase 500 organizações europeias, exige também a não ratificação do Acordo Global Económico e Comercial entre a União Europeia e o Canadá (CETA), cujas negociações terminaram há um ano.