Ditadura
«A palavra ditadura, na teoria marxista-leninista do Estado, não significa uma forma particular de dominação de uma ou várias classes sobre outras classes, mas o próprio facto dessa dominação». É desta forma lapidar que Álvaro Cunhal a aborda, em 1967, no seu texto sobre a questão do Estado. Enuncia um aspecto teórico essencial quando se trata de analisar a questão do poder (dos poderes) em qualquer sociedade dividida em classes antagónicas.
Vem a propósito? Basta olhar para o comportamento dos grandes órgãos de comunicação social (públicos e privados) na actual campanha eleitoral para constatar a sua actualidade. Para se verificar o papel que desempenham enquanto instrumentos de dominação. Uma manipulação e uma discriminação sem precedentes, um obstinado e implacável alinhamento a uma só voz e face a um único bloco de interesses: os do grande capital, nacional e transnacional.
Como ainda não foi desta que a classe dominante conseguiu desfigurar inteiramente a legislação eleitoral no sentido que sempre pretendeu (no fundamental, eliminar a proporcionalidade na conversão de votos em mandatos e criar maiorias de secretaria), avançou com a artilharia mediática pesada na campanha. Com a obsessiva promoção da falsa bipolarização entre PSD-CDS e PS, com o respectivo cortejo de comentadores, politólogos, sondagens. Com uma inédita propaganda encapotada na programação de entretenimento, atingindo públicos mais desprevenidos. Com o férreo silenciamento (que se arrasta há anos, mas que se acentuou) da actividade e das posições do PCP e da CDU. Com a imposição de candidaturas de primeira – o «arco da governação» – e de segunda.
Compreende-se porquê esta censura prévia. 39 anos de «alternância» da troika nacional PS-PSD-CDS, 39 anos de política de direita radicalizada pela troika estrangeira, atingiram com tal dureza uma tão larga massa de portugueses que a classe dominante receia as consequências, incluindo as eleitorais.
Porque o problema para o punhado dos que dominam é que os dominados tomem consciência da sua situação. E que compreendam que os seus interesses não só são antagónicos dos da classe dominante como são esmagadoramente maioritários.