Crise migratória é culpa do Ocidente
Vladímir Putin rejeita as tentativas de culpar a Rússia pelo afluxo de refugiados sírios à Europa e garante que sem o apoio de Moscovo a Damasco a situação ainda seria pior
As pessoas fogem dos terroristas que cometem crimes atrozes
«Os sírios fogem do país devido às atrocidades dos extremistas, mas parece que agora querem endossar o problema dos refugiados à Federação Russa», disse Putin, citado pela RIA Novosti, ao intervir anteontem, 15, na cimeira da Organização do Tratado da Segurança Colectiva (OTSCE, que integra várias ex-repúblicas soviéticas), em Dusambé.
O presidente russo reagia às acusações dos EUA, que nos últimos dias atribuíram o crescente fluxo de refugiados sírios ao apoio militar de Moscovo a Damasco. «Como se o problema dos refugiados tivesse sido criado pelo facto de a Rússia apoiar o poder legítimo na Síria», enfatizou Putin, para quem o êxodo das populações se deve aos combates «impulsionados em grande medida do exterior», assim como às atrocidades dos terroristas.
«Se a Rússia não apoiasse a Síria, a situação no país seria pior do que na Líbia e o fluxo de refugiados ainda maior», garantiu. O dirigente russo instou ainda as potências ocidentais a deixar de lado as ambições geopolíticas na luta contra o terrorismo e a pôr termo ao «uso directo ou indirecto de certos grupos terroristas para alcançar objectivos oportunistas próprios, como a mudança de governos e regimes» que não são do agrado de alguns.
A questão dos refugiados não é nova para a Rússia. Como recordou recentemente o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, desde o início do conflito interno na Ucrânia a Rússia já acolheu mais de 900 mil cidadãos desse país, 400 mil dos quais são considerados refugiados.
UE é responsável
Intervindo na 30.ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, o representante permanente da Rússia, Andréi Nikíforov, reportando-se à actual crise migratória na Europa, considerou que ela «é o resultado da intervenção imprudente e irresponsável nos assuntos internos dos estados com o objectivo de mudança violenta dos governos indesejáveis na região». Nikíforov lembrou que a Rússia advertiu em repetidas ocasiões para as possíveis consequências dessas intervenções e avisou que levariam ao caos e ao disparar do terrorismo. «Foi o que sucedeu. As pessoas não fogem de regimes ditatoriais mas dos grupos terroristas que cometem crimes atrozes na região», concluiu.