CGTP-IN condena «cinismo» do Governo

Crise é desigual

O crescimento das desigualdades, que Passos Coelho diz agora querer combater, é «um resultado da política dita de austeridade e não propriamente algo inesperado, alheio à política de direita e às práticas governamentais».

É preciso romper com a política que empobrece os trabalhadores

Tais declarações do primeiro-ministro, «só expressas em período eleitoral», foram criticadas pela CGTP-IN, que as considerou «bem reveladoras do cinismo que pauta a mensagem do Governo PSD/CDS-PP». Acusando os governantes de pretenderem ilibar-se «das responsabilidades que lhes cabem na verdadeira desgraça social a que a política de direita e os seus executantes têm conduzido os trabalhadores, o povo e o País», a Intersindical Nacional publicou um comunicado de imprensa, no dia 19, onde incluiu vários dados a comprovar que «a crise não é para todos».
«A realidade confirma, assim, uma vez mais, a urgência de ruptura com a política de direita e de inversão do rumo seguido, por via de uma política verdadeiramente alternativa, de esquerda e soberana, comprometida com os valores e direitos de Abril, abrindo caminho a um Portugal desenvolvido, de progresso e justiça social», conclui a central.

A fazer pobres

«Portugal está hoje mais desigual» e «este é o resultado de uma política de classe, ao serviço dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros e das grandes potências». A Inter cita as estatísticas da evolução dos salários, da distribuição do rendimento e da riqueza, ressalvando que estas áreas «não esgotam as desigualdades sociais», mas nelas «teve um impacto directo e brutal» a «política de “austeridade” ou, antes, de agravamento da exploração, das desigualdades e do empobrecimento».
Na Administração Pública, a última actualização salarial teve lugar em 2009. Nos cinco anos seguintes (2010 a 2014) as perdas para a inflação (acumulada) representam oito por cento. Mas, observa a CGTP-IN, há que considerar os cortes salariais impostos e ainda não revertidos, bem como outras medidas com impacto no rendimento dos trabalhadores (são referidos o congelamento das carreiras e o aumento dos descontos para a ADSE, de 1,5 para 3,5 por cento.
No sector privado, o ganho (remuneração-base, prémios e subsídios regulares, horas extra) dos trabalhadores a tempo completo apenas aumentou 2,1 por cento, de 2009 a 2014, o que representa uma perda real de 5,5 por cento para a inflação.
Esta evolução ocorre com «um nível salarial muito baixo», que fica particularmente evidente nos dados do rendimento salarial médio mensal líquido dos trabalhadores por conta de outrem (valor dos pagamentos regulares, a que são deduzidos os impostos e as contribuições para a Segurança Social): 61,1 por cento dos 3 723 400 trabalhadores ficam abaixo de 900 euros. Mas quase 160 mil (4,2 por cento) estão no escalão inferior a 310 euros e mais de um milhão (28,2 por cento) preenchem o patamar seguinte (de 310 a 600 euros).
A confederação sublinha que «um elevado número de trabalhadores por conta de outrem vive em situação de pobreza real, mesmo que não apareçam considerados como tal nas estatísticas oficiais». Em Outubro de 2014, recorda-se no comunicado, quase 20 por cento dos trabalhadores estavam abrangidos pelo salário mínimo nacional; mas considerando apenas as mulheres, a parcela subia para 25 por cento.

O reverso da medalha é mostrado noutros dados, que a CGTP-IN evidencia:

nas empresas do PSI 20 (que definem o indicador de referência da Bolsa), um presidente executivo recebeu 47 600 euros por mês, em média, no ano passado, o que representa 42 vezes o ganho médio de um trabalhador no sector privado;
os 25 mais ricos possuem um património avaliado em 14,7 mil milhões de euros, que equivale a 8,5 por cento do PIB nacional;
na distribuição funcional do rendimento, a parcela destinada a remunerações do trabalho (que também inclui as contribuições patronais para a Segurança Social) tem diminuído todos os anos, desde 2009, passando de 47,7 para 44,1 por cento, evolução que «traduz uma transferência brutal de rendimentos salariais para lucros e outros rendimentos não salariais».

 



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