E a Europa dos povos...

Vasco Cardoso

A situação que se desenvolve no seio da UE e do euro, com o aprofundamento da sua crise e com as diferentes expressões tidas, designadamente em Portugal ou na Grécia, está a revelar aquilo que há uns anos alguns julgariam impensável: o questionamento e a rejeição, à escala de massas, da política e do processo de integração capitalista na UE.

Um facto tão mais importante quanto surge enquanto processo de resistência e afirmação face à impressionante campanha ideológica que se desenvolve há décadas destinada a apresentar a UE como um «paraíso na terra» e algo de irreversível. A fraude da política de coesão económica e social; a mistificação em torno dos fundos comunitários; a ilusão da convergência real; o mito do projecto «democrático»; a falácia da «casa comum»; o descrédito em que caiu a palavra solidariedade sempre que alguns dos dirigentes da UE a pronuncia. Na verdade, aumenta cada vez mais o fosso que separa a propaganda e a realidade com que milhões de homens e mulheres são confrontados e, sobretudo, aumenta a consciência colectiva de tal facto.

A resposta dos trabalhadores e dos povos à brutal ofensiva que foi desencadeada depois de 2008 tem sido de luta e de combate. Impressionantes manifestações de massas, greves, milhares de lutas tão diversas, têm varrido o continente europeu nos últimos anos apropriando de forma crescente no seu conteúdo a necessidade da rejeição da Europa do grande capital e a afirmação do direito soberano de cada povo decidir do seu futuro.

Os resultados nas últimas eleições e referendo na Grécia, provam-no e inserem-se neste percurso, e nem as vacilações e cedências do governo daquele país, face à inqualificável chantagem e ingerência da UE e dos monopólios, podem apagar tal facto. Em Portugal, a poucos meses das eleições legislativas, PSD, CDS e PS não só alinham com a brutal ingerência e chantagem promovida sobre a Grécia, como, para salvar a sua própria política, disseminam o medo face às inevitáveis rupturas que a situação exige. Entre elas, está a questão do euro, mecanismo dentro do qual não é possível uma política alternativa e cujo estudo e preparação para que o nosso País dele se liberte, tal como propõe o PCP, assume cada vez maior actualidade e contribui para a definição da política patriótica e de esquerda que queremos que o povo português tome nas suas mãos.

 



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