O grande maná da finança
Em Fevereiro de 2015, um consórcio de 150 jornalistas de 50 países revelou o escândalo SwissLeaks, um sistema de fraude fiscal e de branqueamento de dinheiro em grande escala, arquitectado pelo banco HSBC a partir da Suíça.
Na origem das revelações esteve Hervé Falciani, técnico informático no HSBC de Genebra, que forneceu informações sobre 130 mil nomes em situação de evasão fiscal.
Perseguido, preso, ameaçado de morte e julgado na Suíça por espionagem financeira, furto de informações, violação do sigilo comercial e do sigilo bancário, Falciani divulga agora os pormenores da trama no livro «O Cofre-Forte da Evasão Fiscal», publicado este mês em Portuga pelo Círculo dos Leitores.
A obra, escrita com a colaboração do jornalista italiano, Angelo Mincuzzi, inclui documentos de clientes famosos do HSBC que atestam as fortes ligações entre a fraude e corrupção e o poder político.
Na realidade, afirma Falciani, reside aí a razão de «os políticos não fazerem nada para combater a evasão fiscal, o poder excessivo dos bancos e a corrupção. Protegendo os bancos, protegem-se a si próprios».
Aliás, o autor vai mais longe, afirmando que o modelo económico do «banco privado» baseia-se sobretudo na dívida pública, actualmente o meio mais importante de financiamento.
«Por um lado, os bancos podem obter dinheiro do Banco Central Europeu (BCE) pagando 0,5 por cento de juros, e por outro – utilizando o chamado “efeito de alavanca” –, podem comprar dívida pública num montante igual a 50 vezes àquele que obtiveram».
E como os títulos da dívida pública proporcionam em média um juro de 2,5 por cento, os bancos encaixam cinco vezes mais do que a taxa que pagam ao BCE.
«Se uma instituição obtém um milhão de euros do BCE, terá de pagar cinco mil euros de juros. Mas com aquele milhão poderá adquirir títulos públicos no valor de 50 milhões, que lhe darão 1,25 milhões de euros de juros. Multiplicando este valor por centenas de milhares de milhões de euros apercebemo-nos das dimensões do fenómeno», escreve o autor.
Assim, com a ajuda do «efeito de alavanca e sem o menor esforço», os bancos ganham muito dinheiro: «Este é o modelo económico actual. Temos de o inverter, e isso pode ser feito».