Plural ou nem tanto...
A comunicação social tem a função de informar, mas hoje, com cada vez mais espaços de comentário e opinião, é um veículo de excelência para a construção e formatação de opinião colectiva. A televisão, pelo impacto mediático, cumpre aqui um papel de relevo na transformação do comentário e da opinião em propaganda da ideologia dominante. Uma análise ainda que muito superficial dirá que temos apenas três profissionais do comentário político com lugar cativo semanal nas três estações que emitem em sinal aberto, todos eles militantes e antigos dirigentes do PSD.
Para compreender o alcance desta gigantesca máquina de propaganda, interessa ir mais longe. A RTP, com as suas obrigações de serviço público, tem nas grelhas dos seus canais espaços que se dizem plurais. Um dos programas emblemáticos, «Prós e Contras», é apresentado orgulhosamente como o «maior debate da televisão portuguesa». São duas horas semanais de debate plural, participado e representativo da sociedade portuguesa. Será? Não!
De facto, este programa tem dado espaço a muita gente, só nos últimos três deu a palavra a quatro deputados diferentes – dois do PS e dois do PSD como manda o equilíbrio da alternância. Pelo meio, num debate sobre trabalho, assistimos a um painel de especialistas: mas quem os apresentou esqueceu-se de nos dizer que um deles foi deputado eleito pelo PSD na legislatura anterior e que outro é presidente de uma Assembleia Municipal eleito pelo PS. São estes os especialistas que contam. E sobre a privatização da TAP, o que parecia impossível foi mesmo conseguido: das três vezes que esteve em debate desde o início do ano, por lá passaram governantes, ex-governantes e deputados. O que tinham todos em comum? A ligação ao PS, PSD e CDS! A verdade é que, desde 30 de Março, passaram já dois meses em que a RTP não considerou a posição do PCP relevante para o chamado «maior debate da televisão portuguesa».
Dirão alguns: a RTP tem mais canais, com outros espaços onde, certamente, existe pluralismo à séria! Um desses espaços tem o nome «Três Pontos» e vai para o ar todos os dias úteis às 22 horas na RTP Informação. Mesmo ignorando que este canal é daqueles a que nem todos têm acesso, decerto estarão representados mais partidos neste formato, afinal são cinco por semana... Espantem-se: os únicos partidos representados são PS, PSD e CDS, a troika do comentário político de novo em regime de monopólio.
É esta RTP, com as responsabilidades acrescidas que tem, que considera que só PS, PSD e CDS têm acesso ao espaço mediático com lugar cativo, que no seu Telejornal de sábado ocultou que foram mais de 100 mil portugueses os que desceram a Avenida da Liberdade. Da mesma forma, os jornais do dia seguinte esforçaram-se por menorizar e deturpar a Marcha, limpando-a das primeiras páginas, escondendo que tem sido o PS a marcar iniciativas para datas em que já se conhece iniciativas do PCP. Mas se tentam colar ao PCP, à CDU, o rótulo do protesto, são cada vez mais os que acreditam que é na CDU que reside a alternativa, e é esse o medo de quem manda na comunicação social.