Abril é futuro
«O 25 de Abril foi a resposta que os militares do Movimento das Forças Armadas, o povo, os democratas e os antifascistas deram às inevitabilidades daquele tempo. Também hoje é necessário e é possível romper com as inevitabilidades que nos querem impor».
Esta foi uma das ideias-chave expressa pela deputada comunista Carla Cruz na intervenção que proferiu da tribuna, onde predominava o vermelho dos cravos, na sessão solene com que a Assembleia da República assinalou o 41.º aniversário do 25 de Abril.
Convocando factos que permanecem vivos na memória colectiva, como elementos de identidade e referências de futuro, a parlamentar do PCP mostrou-se convicta de que a «solução dos graves problemas nacionais não está na continuação da política de direita», mas sim na «afirmação das conquistas de Abril consagradas na Constituição». É por aí, sublinhou, que o «País encontrará as respostas para enfrentar os problemas actuais e futuros».
A anteceder as intervenções dos partidos com assento parlamentar, do Presidente da República e da presidente da Assembleia da República, o cante alentejano ecoou das galerias do hemiciclo pelas vozes do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa, que cantou «Grândola, vila morena», após entoar o Hino Nacional.
Começando por saudar os militares de Abril e todos aqueles que lutaram para derrubar a ditadura fascista, democratas e antifascistas que souberem resistir e com coragem «acreditaram que era possível» pôr termo à repressão, à fome e à miséria, pôr fim à guerra colonial e liquidar o poder dos monopólios, Carla Cruz deteve-se depois nas profundas transformações operadas pela Revolução de Abril, essa «magnífica realização histórica do povo português, tornada possível pela aliança entre o povo e o MFA».
«Foi esta aliança original que possibilitou a revolução e a concretização das profundas transformações políticas, económicas, sociais e culturais que alteraram radicalmente a situação do País e a vida dos portugueses», salientou a parlamentar do PCP, que lembrou mais adiante ter sido desse processo emancipador e amplamente participado que «nasceram as profundas transformações democráticas, consagraram direitos, se impulsionou a emancipação social e nacional, se concretizou a reforma agrária, se realizaram as nacionalizações de empresas e sectores estratégicos, incluindo a banca, colocando-os ao serviço do progresso e do desenvolvimento do País».
Mais, «foi este processo e não qualquer outro que abriu a Portugal as portas do relacionamento com a Europa e o Mundo», acrescentou, pondo ainda em evidência que foi neste processo que os «trabalhadores tomaram o destino nas suas próprias mãos, construindo um País mais justo e solidário, em que «nenhuma conquista de Abril foi oferecida ao povo», ao invés, «todas foram conquistadas pela luta».
Da política dos PEC e do pacto de agressão que atacou e destruiu muitas dessas transformações e progressos falou depois Carla Cruz, lembrando aqueles que a querem perpetuar – os «executantes da política de direita» que se «disputam em pequenas diferenças de ritmo e intensidade», frisou –, recorrendo aos mecanismos da chamada Governação Económica e ao Tratado Orçamental para amarrar Portugal à política da troika», para levar a água ao moinho do grande capital, enquanto o «povo empobrece».
Daí a posição reiterada por Carla Cruz de que é na «afirmação dos valores de Abril que se defende o futuro de Portugal», que a Constituição consagra e defende – ela que é um «sério obstáculo» aos que «querem impor o retrocesso social e civilizacional» –, «com a certeza de que esses valores continuam presentes no coração, nos sonhos, nos anseios e na luta do povo».