Não ignorar as causas
Os deputados cumpriram faz hoje oito dias um minuto de silêncio pelas vítimas dos naufrágios no Mediterrâneo, com todos os grupos parlamentares a expressarem pesar e a exigirem da Europa medidas concretas e imediatas para o problema.
A presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, associou-se «firmemente» à condenação da «imensa tragédia» que ocorre na bacia mediterrânica, sustentando que é necessária uma política que resolva os «efeitos» do problema mas que trate também das «causas».
Em nome do PCP, o deputado comunista António Filipe considerou que os milhares de imigrantes que têm morrido no Mediterrâneo são apenas pessoas que «desesperadamente tentam a sobrevivência que não conseguem garantir nos seus países».
«Não se trata de perseguir um qualquer sonho, trata-se apenas de tentar sobreviver a todo o custo», acentuou, antes de condenar a hipocrisia dos dirigentes da União Europeia que «lamentam as consequências» mas não assumem as pesadas responsabilidades que têm pelas causas do problema.
E a este respeito assinalou que não se pode ignorar que a situação existente na Líbia «foi criada com a intervenção directa da Força Aérea britânica e da Força Aérea francesa, que instalou no poder aqueles que agora ali provocam o caos».
Tal como não pode ser esquecida, acrescentou, a «responsabilidade» que os países da União Europeia têm igualmente pela situação que se vive naquele país do Norte de África e, inclusivamente, pelo «apoio ao Estado Islâmico que agora tanto se lamenta mas que foi um facto real».
«Não nos podemos esquecer da origem de tudo isto há uns anos com a guerra do Iraque que era para destruir umas armas de destruição maciça que afinal não existiam. Não nos podemos esquecer desta hipocrisia de quem lamenta as consequências depois de ter promovido as causas», insistiu.
António Filipe considerou, por outro lado, que a preocupação da UE não deveria estar focada na chegada de pessoas à Europa. «A preocupação devia ser com os que não chegam, com os que morrem pelo caminho, às mãos das máfias e dos gangues receptadores que procuram extorquir essas pessoas dos seus parcos haveres com a promessa de as fazer chegar à Europa», sublinhou o deputado do PCP, entendendo que a preocupação devia ser ainda com a situação das pessoas nos seus países, e não incentivar as guerras que dilaceram estes territórios.
O parlamentar comunista e vice-presidente da AR sustentou, por outro lado, que a «UE não pode lamentar os mortos e expulsar os sobreviventes», defendendo que as pessoas nestas condições têm de ser tratadas com humanidade e dignidade.
«Exige-se que os países da UE tratem de forma humana e digna essas pessoas sem ceder aos ventos de racismo e xenofobia que campeiam por essa Europa fora e que, como as máfias, têm de ser combatidos de forma intransigente», concluiu.