Nazifascismo nunca mais
«É preciso actuar, não só recordar»
Na cerimónia realizada no antigo campo de extermínio nazi, situado a 60 quilómetros de Cracóvia, na Polónia, estiveram representantes de meia centena de países, entre os quais Portugal, e cerca de 300 sobreviventes. Em três anos, cerca de 1,1 milhão de seres humanos foram ali liquidados, a maioria judeus, mas também comunistas, democratas e progressistas que resistiram ao nazifascismo, ciganos e deficientes.
Esta terá sido uma das últimas oportunidades para reunir ex-presos de nacionalidades diversas, levados para Auschwitz-Birkenau para servirem de mão-de-obra escrava e/ou serem executados nas câmaras de gás. Alguns deles testemunharam na cerimónia o horror ali vivido, a estupefacção por terem sobrevivido a condições infra-humanas e a todo o tipo de atrocidades, e a persistência da memória do período passado em Auschwitz que, independentemente do tempo de cativeiro, é sempre uma eternidade, expressou o sobrevivente Roman Kent.
A existência de campos de concentração e extermínio como o de Auschwitz-Birkenau mostra que «temos de lutar» contra a possibilidade de reimposição de um tal mal no mundo, expressou a sobrevivente polaca Halina Birenbaum. «É preciso actuar, não só recordar», acrescentou ainda Roman Kent, antes da intervenção de um sobrevivente não-judeu, Kazimierz Albin, enviado para Auschwitz por colaborar com a resistência polaca.
Apesar de não estar presente na cerimónia, o presidente russo Vladimir Putin lembrou que «o fim da monstruosidade e da barbárie implacável nazi foi determinado pelo Exército Vermelho, que salvou do extermínio não só judeus, mas também outros povos da Europa e do mundo». Putin manifestou-se, também, contra a «inaceitável tentativa de reescrever a História».
Para que nunca mais aconteça
Construído em 1940, o campo de Auschwitz-Birkenau foi um dos principais locais de extermínio nazi após a implementação da «solução final», em 1942. A 27 de Janeiro de 1945, as tropas da União Soviética, que desencadeavam uma ofensiva imparável de expulsão das hordas hitlerianas do Leste e do centro da Europa, libertaram o campo. Cerca de sete mil prisioneiros ainda ali se encontravam. Os demais, embora fossem igualmente só pele e osso, foram levados pelos nazis naquela que ficou conhecida como «a marcha da morte». Em 1947, foi aberto um museu no local. Os restos do campo de concentração e extermínio que os nazifascistas não destruíram são, desde então, Património da Humanidade.
Em Portugal, a URAP e o CPPC assinalaram no próprio dia 27 a libertação do campo de Auschwitz pelo Exército Vermelho com a edição de dois comunicados. A organização antifascista, fazendo uma breve resenha história da máquina de morte nazi e da sua libertação, informa que participará uma vez mais, em Maio, no «comboio dos 1000», iniciativa organizada pela Federação Internacional de Resistentes, o Instituto de Veteranos da Bélgica e a Fundação de Auschwitz, na qual se levará mil jovens europeus ao campo. Destes, estima-se, 50 serão portugueses.
No comunicado do CPPC, recorda-se «todas as vítimas da barbárie nazifascista» e denuncia-se a «imposição de políticas de exploração e de guerra, que condenam os povos à pobreza e à fome». Estas são precisamente as mesmas que «geram, alimentam e apoiam abertamente forças racistas e xenófobas, como instrumentos de desestabilização e ingerência, de que são exemplos as agressões aos povos da Palestina, da Síria, do Iraque ou da Ucrânia».