Eleições na Grécia

Gregos votaram na mudança

A Co­li­gação de Es­querda Ra­dical (Sy­riza) venceu as le­gis­la­tivas an­te­ci­padas na Grécia e o seu líder foi em­pos­sado como pri­meiro-mi­nistro de um go­verno for­mado com o Gregos In­de­pen­dentes (Anel).

Sy­riza fica a dois de­pu­tados da mai­oria ab­so­luta e forma go­verno com o Anel

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Alexis Tsi­pras tomou posse ao início da tarde de se­gunda-feira, 26, em Atenas, menos de 24 horas após o anúncio dos re­sul­tados ofi­ciais. No su­frágio de do­mingo, 25, o Sy­riza ob­teve 36,34 por cento (dois mi­lhões 244 mil 687 votos) contra 27,81 por cento (um mi­lhão 717 mil 831) al­can­çados pela Nova De­mo­cracia (ND), li­de­rada pelo até agora pri­meiro-mi­nistro An­tonis Sa­maris, que re­cuou 1,81 pontos per­cen­tuais (menos 107 806 votos) face às elei­ções de Junho 2012.

Apesar de ter cres­cido quase dez pontos per­cen­tuais e 589 601 votos re­la­ti­va­mente ao pleito de há um ano e meio, e de ter be­ne­fi­ciado do bónus de 50 de­pu­tados que o sis­tema elei­toral grego atribui ao par­tido mais vo­tado, o Sy­riza ficou a dois de­pu­tados da mai­oria ab­so­luta.

Alexis Tsi­pras não de­morou muito tempo a en­con­trar um par­ceiro para o novo exe­cu­tivo: os Gregos In­de­pen­dentes (Anel).

O Anel foi for­mado há menos de dois anos, re­gis­tando desde então uma con­tínua perda de in­fluência po­lí­tica e elei­toral. Ten­dência con­fir­mada nas le­gis­la­tivas do pas­sado do­mingo, nas quais não foi além dos 4,75 por cento, tendo per­dido 169 225 votos com­pa­rando com os re­sul­tados de Junho de 2012.

PCG
com me­lhores
con­di­ções para a luta

As­si­nale-se os re­sul­tados ob­tidos pelo Par­tido Co­mu­nista da Grécia (KKE), que – em­bora não re­cu­pe­rando de an­te­ri­ores perdas – con­se­guiu mais 60 mil votos e quase mais um por cento face a Junho de 2012. O cres­ci­mento do KKE nas urnas (de 4,5 para 5,47 por cento, e de 277 204 votos para 337 947 votos) e no par­la­mento (mais três de­pu­tados, pas­sando de 12 para 15 eleitos), mo­tiva os co­mu­nistas a «au­men­tarem os seus es­forços e ini­ci­a­tivas para res­ponder aos pro­blemas dos tra­ba­lha­dores e do povo», para «re­a­grupar o mo­vi­mento ope­rário e po­pular, para a cons­trução da ali­ança do povo capaz de re­a­lizar as suas es­pe­ranças e ex­pec­ta­tivas de li­ber­tação do jugo dos mo­no­pó­lios», ga­rantiu o se­cre­tário-geral, Di­mi­tris Kout­soumpas.

Sa­li­ente-se, também, a ma­nu­tenção do par­tido nazi-fas­cista Au­rora Dou­rada como ter­ceira força elei­toral, con­quis­tando 17 de­pu­tados, isto apesar de ter de­cres­cido em per­cen­tagem (menos 6,4 por cento) e em nú­mero de votos (menos 37 793 votos), fi­cando mesmo à frente do par­tido «O Rio» (6,05 por cento, 373 618 votos e 17 de­pu­tados), apon­tado du­rante o pe­ríodo de cam­panha elei­toral como o mais que pro­vável par­ceiro do Sy­riza no go­verno.

Nas elei­ções, con­firmou-se, por fim, o pros­se­gui­mento da erosão elei­toral do Par­tido So­ci­a­lista Pan-He­lé­nico – Pasok (menos 7,06 por cento e menos 466 566 votos), e a não eleição de qual­quer de­pu­tado pelo par­tido do ex-pri­meiro-mi­nistro e ex-líder do Pasok, Ge­orges Pa­pan­dreou, cuja for­mação po­lí­tica, fun­dada para con­correr a estas elei­ções, não al­cançou os três por cento mí­nimos para ser tida em conta no he­mi­ciclo.

Su­blinhe-se, igual­mente, que o filho do fun­dador do Pasok, Adreas Pa­pan­dreou, é o pri­meiro líder po­lí­tico da fa­mília a fa­lhar a eleição para o par­la­mento grego, que al­ber­gava de­pu­tados do clã Pa­pan­dreou desde os anos 20 do sé­culo pas­sado.

De­cla­ração do PCP 

O PCP re­agiu aos re­sul­tados das elei­ções de do­mingo, 25, na Grécia através de uma de­cla­ração de João Fer­reira, membro do Co­mité Cen­tral, que a se­guir se trans­creve na ín­tegra.

«O PCP con­si­dera que os re­sul­tados das elei­ções gregas re­pre­sentam uma der­rota dos par­tidos que, ao ser­viço do grande ca­pital, têm go­ver­nado a Grécia e que, com a União Eu­ro­peia, são res­pon­sá­veis pela po­lí­tica de de­sastre eco­nó­mico e so­cial que tem sido im­posta ao povo grego – tra­du­zindo-se na re­dução da per­cen­tagem con­junta agora ob­tida pela Nova De­mo­cracia e pelo PASOK.

«Re­pre­sentam igual­mente uma der­rota para aqueles que no quadro da União Eu­ro­peia pro­cu­raram, através de ina­cei­tá­veis pres­sões, chan­ta­gens e in­ge­rên­cias, con­di­ci­onar a ex­pressão elei­toral do pro­fundo des­con­ten­ta­mento e von­tade de mu­dança po­lí­tica do povo grego.

«Os re­sul­tados elei­to­rais ex­pressam a re­jeição da po­lí­tica im­posta por su­ces­sivos «pro­gramas de ajus­ta­mento» acor­dados com a troika, de in­ten­si­fi­cação da ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores,

de des­truição de di­reitos la­bo­rais e so­ciais, de ne­gação das mais bá­sicas e es­sen­ciais con­di­ções de vida, de de­clínio eco­nó­mico e de ab­di­cação de so­be­rania, sob o di­tames da União Eu­ro­peia e do euro.

«A re­jeição do rumo de em­po­bre­ci­mento e de de­sastre eco­nó­mico e so­cial, e a von­tade de mu­dança de po­lí­tica tra­duziu-se na vi­tória do SY­RIZA que foi a força po­lí­tica mais vo­tada.

«O Par­tido Co­mu­nista da Grécia ob­teve um re­sul­tado que con­tri­buirá para o pros­se­gui­mento da luta que de­sen­volve em de­fesa dos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e do povo grego e contra as po­lí­ticas que, ao ser­viço do grande ca­pital e do im­pe­ri­a­lismo, tanto so­fri­mento têm im­posto na Grécia.

«O PCP alerta para as ma­no­bras da­queles que no quadro da União Eu­ro­peia pro­cu­rarão, como aliás já anun­ci­aram, as­se­gurar o pros­se­gui­mento do es­sen­cial da po­lí­tica de em­po­bre­ci­mento e de­sastre eco­nó­mico e so­cial na Grécia e a con­ti­nu­ação do do­mínio da União Eu­ro­peia e do seu di­rec­tório de grandes po­tên­cias, li­de­rado pela Ale­manha.

«Rei­te­rando a sua so­li­da­ri­e­dade aos tra­ba­lha­dores e ao povo grego, o PCP su­blinha que serão estes a al­cançar, pela sua luta, a res­posta às suas ne­ces­si­dades e in­te­resses e a con­cre­ti­zação das suas le­gí­timas as­pi­ra­ções a uma vida me­lhor, à sua dig­ni­dade e so­be­rania – de­ci­dindo, sem quais­quer in­ge­rên­cias, o seu pre­sente e fu­turo.

«Para o PCP a so­lução dos graves pro­blemas eco­nó­micos e so­ciais que afectam a ge­ne­ra­li­dade dos países na União Eu­ro­peia exige a rup­tura com as po­lí­ticas, os ins­tru­mentos e os me­ca­nismos de in­te­gração ca­pi­ta­lista que os geram. Só este ca­minho per­mi­tirá res­peitar de facto os sen­ti­mentos que o povo grego agora ex­pressou.

«Em Por­tugal, esse ca­minho passa ne­ces­sa­ri­a­mente pela rup­tura com a po­lí­tica de di­reita e por uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, que entre ou­tras op­ções fun­da­men­tais passa pela re­ne­go­ci­ação da dí­vida de acordo com os in­te­resses na­ci­o­nais; pelo es­tudo e pre­pa­ração do País para a sua li­ber­tação do do­mínio do euro; por uma de­ci­dida po­lí­tica de aposta na pro­dução na­ci­onal; pelo re­forço do poder de compra dos tra­ba­lha­dores e do povo; pelo con­trolo pú­blico dos sec­tores es­tra­té­gicos, no­me­a­da­mente o sector fi­nan­ceiro; pela de­fesa e pro­moção dos ser­viços pú­blicos; pelo com­bate à in­jus­tiça fiscal; por uma po­lí­tica que afirme o pri­mado dos in­te­resses do País e a de­fesa da so­be­rania e in­de­pen­dência na­ci­o­nais.

«Em Por­tugal face ao rumo de ex­plo­ração, em­po­bre­ci­mento e de­clínio na­ci­onal, está nas mãos do povo por­tu­guês com a sua luta e o seu voto abrir um ca­minho vin­cu­lado aos va­lores de Abril e, pela sua parte, o PCP tem so­lu­ções para o País e está pre­pa­rado para as­sumir todas as res­pon­sa­bi­li­dades que o povo por­tu­guês en­tenda atri­buir-lhe.

«É com con­fi­ança que o PCP re­a­firma que ne­nhum obs­tá­culo será inul­tra­pas­sável se en­fren­tado por um povo de­ci­dido a tomar nas suas mãos o seu pre­sente e fu­turo.»

Men­sagem ao PCG

Tendo sido co­nhe­cidos os re­sul­tados das elei­ções re­a­li­zadas no pas­sado dia 25 de Ja­neiro na Grécia, o Se­cre­ta­riado do Co­mité Cen­tral do PCP en­viou aos co­mu­nistas gregos as fra­ter­nais sau­da­ções do PCP pelos re­sul­tados ob­tidos pelo Par­tido Co­mu­nista da Grécia (PCG).

Na men­sagem é ex­pressa a «con­vicção de que os re­sul­tados agora ob­tidos pelo PCG con­tri­buirão para o pros­se­gui­mento da luta dos tra­ba­lha­dores e do povo grego em de­fesa dos seus in­te­resses e an­seios e contra ten­ta­tivas de impor a con­ti­nu­ação das po­lí­ticas, que ao ser­viço do grande ca­pital e do im­pe­ri­a­lismo, tanto so­fri­mento têm im­posto na Grécia».

Na mis­siva é ainda re­a­fir­mada «a so­li­da­ri­e­dade dos co­mu­nistas por­tu­gueses aos co­mu­nistas, aos tra­ba­lha­dores e ao povo grego, com plena con­fi­ança de que será pela sua de­ter­mi­nação e luta que con­quis­tarão a con­cre­ti­zação das suas le­gí­timas as­pi­ra­ções».

 



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