Custos e lucros

Manuel Rodrigues

O PCP denunciou recentemente o ataque ao Serviço Nacional de Saúde que o Governo vem aprofundando e que é a verdadeira causa do caos instalado nas urgências hospitalares. Uma autêntica cruzada que visa  substituir o SNS pelo sector privado na prestação de cuidados realizados, segundo o velho princípio do utilizador-pagador e a drenagem dos recursos do Estado para os bolsos do grande capital.

O PCP aponta o dedo às medidas da política de direita responsáveis por esta situação: «encerramento de serviços de proximidade de cuidados de saúde primários ou a insuficiência da sua resposta por falta de meios, a insuficiência do número de profissionais de saúde a todos os níveis, os problemas sentidos nas urgências (equipas insuficientes, profissionais esgotados, falta de meios de diagnóstico, falta de camas para internamento), a reestruturação da rede feita pelo actual Governo».

De facto, segundo informações vindas a público, enquanto os serviços públicos de saúde vão sendo sangrados dos necessários recursos e condições (no último ano, foram abatidas 689 camas), os serviços de saúde privados revelam já uma capacidade de internamento igual a cerca de metade da que existe no Serviço Nacional de Saúde (mais de 9000 camas) e, por ano, internam 200 000 doentes, fazem 13 por cento das urgências (cerca de um milhão) e 30 por cento das consultas (mais de cinco milhões) de todo o País, facturando à volta de 1,5 mil milhões de euros. Segundo a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada estima-se que o sector privado conte já com 150 unidades de saúde com categoria de hospital (50 dos quais com serviço de internamento).

Entre os maiores grupos de saúde do País está a José Mello Saúde, com 1430 camas, a ES Saúde com 1179, a Lusíadas Saúde com 740 e o Grupo Trofa Saúde com mais de 500 camas, que, esta semana, abriu mais um hospital privado – o Hospital Privado de Gaia, com 100 camas, 73 consultórios e 35 salas de exames e tratamentos.

Esta é a saúde da política de direita, a que é urgente pôr termo. Para o grande capital, os lucros; para os trabalhadores e o povo, os custos. Custos que também significam inacessibilidade, falta de assistência e morte.

 



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