Os bois pelos nomes
Em linguagem popular há uma expressão interessante: «chamar os bois pelos nomes». Seguindo a importantíssima sabedoria popular, iniciamos este artigo com dois nomes e um título. Os nomes são João Amador e Ana Cristina Soares, autores do Estudo com o título «Concorrência na economia portuguesa: estimativas para as margens de preço-custo em mercados de trabalho imperfeitos» emitido pelo BCE no dia 26 de Dezembro.
Segundo um jornal de economia, o dito Estudo «fornece uma bateria de argumentos para que os políticos no poder possam continuar a desregulamentar a formação de salários e a contratação colectiva, uma maneira de introduzir mais concorrência entre trabalhadores, em benefício do valor acrescentado das empresas». Ao lermos esse estudo ficamos a «saber» que quanto maior o poder negocial dos trabalhadores menos «excedentes» as empresas acumulam. E pasme-se! Em Portugal os trabalhadores têm poder a mais, pois de 0 a 100 o poder negocial dos trabalhadores situa-se nessa escandaleira de 12,8 por cento, em média. Nos sectores da electricidade e da construção é um fartar vilanagem, 16 por cento e 22 por cento respectivamente! Conclusão: o poder negocial dos trabalhadores portugueses é demasiado elevado e prejudica os lucros das empresas.
Se isto não fosse a sério, e se estes «economistas» não fossem quadros do Banco de Portugal, dava para nos rebolarmos a rir. Mas não, isto é sério. Estes ditos economistas, e o BCE, não parecem contentes com o facto de um em cada quatro portugueses estar em risco de pobreza ou com o facto de que quem recebe o salário mínimo ganhar menos 12 euros do que em 1974. Parece que afinal não chegaram os 5800 milhões de euros que foram retirados aos rendimentos do trabalho nos últimos três anos. Esses malandros dos trabalhadores têm de trabalhar mais por menos dinheiro. Albarde-se o burro à vontade do dono e carregue-se na canga dos trabalhadores, é o que nos dizem estes doutos economistas. Até porque não chega ao capital ter arrecadado mais 4400 milhões de euros de lucros e dividendos nos últimos três anos. Aos bois que ruminam estas «teorias», e aos que as aplicam, há que chamá-los pelos nomes. São ladrões! Ladrões de rendimentos, de direitos, de vidas, de dignidade e do futuro do País.