«O PCP, os católicos e a Igreja»
O Partido promoveu no dia 12, em Santa Maria da Feira, um debate público sobre «O PCP, os católicos e a Igreja», que contou com dezenas de participantes.
Debate em Santa Maria da Feira
Promovido pela Direcção da Organização Regional de Aveiro do PCP, o debate teve lugar no salão nobre da Junta de Freguesia de Fiães e reuniu um expressivo leque de oradores: Virgínia Sousa, militante da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos (LOC/MTC), com responsabilidades diocesanas; Deolinda Machado, dirigente da CGTP-IN e activista da LOC; Edgar Silva, ex-padre e membro do Comité Central do PCP; e Carlos Gonçalves, da Comissão Política. A moderar esteve Filipe Moreira, eleito da CDU na Assembleia Municipal de Santa Maria da Feira.
Durante as três horas que durou a sessão, uma numerosa e heterogénea assistência ouviu atentamente os oradores e participou activamente, colocando dúvidas, partilhando testemunhos, afirmando convicções. Entre as questões debatidas, ressaltam as que se prendem com a «doutrina social da Igreja» e a sua evolução ao longo do tempo e ainda com a constatação da existência de mudanças a vários níveis que colocam questionamentos a alguns dos dogmas da Igreja.
Sublinhadas foram a emergência de dinâmicas associativas e de acção católica mais próximas dos problemas sociais e a necessária unidade de acção entre católicos e comunistas na luta, que é comum, contra a exploração e o empobrecimento. Na ocasião, foi lembrada a brochura escrita por Álvaro Cunhal em 1947, intitulado precisamente «O Partido Comunista, os Católicos e a Igreja», no qual se afirma, relativamente à relação entre comunistas e católicos, que «aquilo que nos separa nada é comparado com o que nos une». No debate fez-se ainda uma análise ao contributo fundamental da Teologia da Libertação para o aprofundamento da relação entre o marxismo e o cristianismo, concluindo-se que, sendo de diferente natureza, não são incompatíveis no plano da acção concreta.
Convergância e crítica
O PCP, defensor do respeito pela liberdade religiosa e de culto (princípios consagrados na Constituição da República Portuguesa), teve e tem nas suas fileiras vários militantes católicos. Analisando a posição de sempre do Partido sobre os católicos e a Igreja, Carlos Gonçalves lembrou o III Congresso do PCP, realizado em 1943, e o contributo de Álvaro Cunhal para o aprofundamento destas questões.
O membro da Comissão Política destacou que o PCP não só contraria posturas anticlericais, de génese maçónica ou anarquista, como há muito que deliberou que um crente pode ser militante do PCP – desde que, como qualquer outro, intervenha no quadro do seu Programa e Estatutos. Mas o PCP fez mais do que isso, promovendo a unidade com católicos patriotas e progressistas, sublinhou.
Este posicionamento, acrescentou Carlos Gonçalves, não impediu o Partido de denunciar e combater o envolvimento da hierarquia da Igreja Católica em Portugal com o fascismo de Salazar e Caetano, da mesma forma que hoje não abdica de responder a posições de natureza política de certos responsáveis religiosos, quando entende que tal é necessário. O dirigente comunista reafirmou ainda a importância da intensificação do relacionamento dos comunistas com os mais amplos sectores sociais e de massas – no movimento sindical unitário e nos movimentos associativos e de defesa das populações – na luta contra o empobrecimento e o declínio nacional e na construção de uma política alternativa.