A casca de banana
Truque velho e gasto, expediente recorrente ao serviço dos grandes interesses, esse, o de tingir o PS, em vésperas de eleições com as cores de esquerda que há muito abandonou. A operação já leva meses de cuidadosa preparação e foi acelerada após as eleições para o Parlamento Europeu com a sempre oportuna mudança de caras colocando um António Costa no lugar de um António Seguro. Após a monumental farsa que foi a da escolha do «candidato a primeiro-ministro», seguiram-se as muitas declarações inócuas, vazias de conteúdo e de proposta concreta, esquivas e habilidosas, preenchidas com genuínas preocupações dos portugueses mas desertas quanto às linhas de ruptura de que o País precisa. É preciso combater o desemprego! Acabar com a pobreza! Pôr a economia a crescer!
Veio depois o congresso cuja encenação apenas foi perturbada pela detenção de Sócrates, para consagrar a grande «viragem à esquerda» confirmada por todos os comentadores que encharcam as televisões com a opinião dominante. Um a um, vão sendo também libertados os nomes dos «apoios», de gente interessante é certo, mas também de outros, com «interesses», dos tais que se colam a tudo quanto cheire a poder. E para alijar responsabilidades por um percurso marcado por entendimentos e opções políticas de direita, aparece a acusação e o insulto, designadamente ao PCP, por via do chamado convite para que este «abandone o conforto do protesto», desistindo assim da luta por uma ruptura com a política de direita, da qual o PS nunca desertou, pois nunca a chegou verdadeiramente a assumir.
E enquanto o Governo PSD/CDS, isolado e politicamente derrotado, vai prosseguindo a sua obra de destruição, o PS prepara-se para eleições e tudo quanto o grande capital lhe pede é que não se desvie da encenação que nos últimos 38 anos tão bons resultados deu na política de exploração, empobrecimento, privatizações, corrupção, submissão à União Europeia e ao euro.
Não há milagres! Essa casca de banana que é lançada sob os pés do povo português quando desespera por uma legítima mudança só pode ser removida intensificando o esclarecimento, divulgando as soluções do PCP para o País, desmascarando a política de direita e os seus protagonistas, afirmando o caminho da ruptura e da alternativa patriótica e de esquerda.