Crime... e depois?

Anabela Fino

O relatório divulgado anteontem pela Comissão para os Serviços de Informações do Senado dos Estados Unidos confirma o que já se sabia e que alguns – em contra corrente à opinião publicada – não se cansam de repetir: a CIA não olha a meios para atingir os seus fins. Dito de outro modo, os EUA, de que a CIA é parte intrínseca, espiam, mentem, prendem, torturam, invadem, matam seja quem for e onde for para atingir os seus objectivos.

O relatório agora vindo a público, uma versão censurada do documento original de 6300 páginas que resultou da investigação levada a cabo durante cinco anos, é ele próprio um testemunho da verdadeira face da política norte-americana tanto pelo que diz como sobretudo pelo que oculta, ou seja por aquilo que o veto neste caso dos republicanos, em maioria no Senado – tal como já fizeram os democratas – impediu de vir à luz do dia.

As prisões indiscriminadas levadas a cabo depois dos ataques terroristas do 11 de Setembro, que também serviram de pretexto, é bom lembrar, para cercear liberdades e garantias ao povo norte-americano, violaram todas as leis que caracterizam os estados de Direito, incluindo naturalmente os EUA. Ser «suspeito» em qualquer parte do mundo, seja pela cor da pele, pela religião, pelas ideias tornou-se uma via aberta para a prisão, para a tortura, para a morte. Os EUA – patrocinadores de instâncias judiciais a que não se submetem, como é o caso do Tribunal Penal Internacional – criaram a prisão de Gauntánamo em território ocupado de Cuba e transformaram-na numa terra sem lei para tratar os presos com total impunidade. Sabendo que as convenções de Genebra consagram direitos elementares, decidiram que as mesmas não se aplicavam aos «seus» presos, assim destituídos da condição humana, pelo que ficaram com as mãos livres para todos os crimes. E cometeram-nos. Como já o haviam feito em Abu Ghaib, no Iraque, ou no Afeganistão, ou onde quer que seja que chegue o longo braço da CIA.

A promessa de Obama de encerrar Guantánamo, feita em 2006, não passou disso mesmo. Com a mesma hipocrisia de então, diz agora esperar que os crimes revelados pelo relatório sejam coisa do passado e dá o assunto por encerrado, como quem passa uma borracha sobre o assunto. É a sanção da barbárie.




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