Conquistar direitos na Ficocables
O portão da Ficocables, na Maia, empresa do grupo espanhol Ficosa, foi local de concentração de mais de duas centenas de operárias e operários daquela fábrica que produz componentes para o sector automóvel, numa demonstração de crescente determinação na luta pelos seus direitos.
Os trabalhadores não desistem das suas justas aspirações
Esta empresa, que emprega, em termos médios, cerca de mil trabalhadores, sendo a sua esmagadora maioria mulheres, traduz a persistência e determinação do Site-Norte, sindicato do sector filiado na CGTP-IN, que nunca deixou de contactar com estas trabalhadoras mesmo quando tinha pouca organização na empresa. Luís Pinto, operário metalúrgico, dirigente do SITE-NORTE e dirigente regional e nacional do PCP, lembrou ao Avante! os primeiros contactos que fez na empresa, numa altura «em que nem estava no sindicato como dirigente, mas era convidado, enquanto membro da Comissão de Trabalhadores da Portcast», empresa onde trabalha, «para as distribuições de documentos e contactos com as trabalhadoras desta empresa».
Já como dirigente, coube-lhe dar continuidade a esse trabalho sindical, e identificou como um marco importante «o primeiro plenário de trabalhadores realizado naquela empresa», revestido de um significado especial, pois foi «realizado em 2009, no dia Internacional da Mulher», facto que este dirigente da CGTP-IN relembrou na acção de rua que deu expressão à greve de uma hora, cumprida no fim de turno da manhã do passado dia 3, e que se enquadrou na quinzena de luta convocada pela Intersindical.
Luís Pinto relembrou também às muitas trabalhadoras que fizeram questão de se manter ali durante aquela hora envergando as suas batas de trabalho, que «muitos trabalhadores, pelo seu vínculo precário, não estavam ali, mas não por falta de vontade», ao que prontamente se ouviu uma trabalhadora exclamando: «A gente luta por eles também!», referindo-se às cerca de duas centenas de trabalhadores temporários que a empresa tem ao seu serviço.
Objectivos a alcançar
Três são as questões que estas trabalhadoras consideram como seus objectivos de luta imediatos e sobre os quais, se até dia 15 de Outubro a empresa não os resolver, garantidamente implicarão novas formas de luta: a empresa obriga as trabalhadoras a usar cartão de ponto quando se deslocam ao WC; a avaliação de desempenho ali adoptada tem em consideração negativa as faltas para assistência a filhos e as baixas por doenças profissionais; e, por último, as trabalhadoras exigem aumentos salariais, tendo até em conta que existem salários «congelados» há vários anos.
A determinação destas trabalhadoras, claramente visível e audível no momento em que aprovaram a resolução a apresentar à empresa, leva a crer que não desistirão dos seus objectivos, e que como no passado já viram demonstrado, lutar compensa. Luís Pinto contou que há poucos anos a realidade sindical era muito diferente naquela empresa, com a existência de «muitos trabalhadores sindicalizados num sindicato “amarelo”», que «traiu os trabalhadores relativamente ao descanso compensatório que nunca tinha sido gozado» tentando abdicar deste em nome dos trabalhadores. «Nós resistimos com os trabalhadores», afirmou, e «através de muita luta, os trabalhadores gozam e gozaram todo o descanso compensatório que lhes era devido desde 2001».
Este momento marcou o início do declínio do «outro sindicato, que agora é praticamente inexistente na empresa». Este dirigente da CGTP-IN relembrou ainda a bravura com que cerca de 30 trabalhadoras, ainda em 2008, resistiram ao banco de horas ilegal que a empresa tentou impor. Já em 2009, uma das «primeiras grandes lutas, e primeira grande vitória, foi o trabalho nocturno» que as trabalhadoras do turno da manhã, cuja jornada se inicia às seis horas, «passaram a receber» após a intervenção do sindicato.
Este caminho sindical encetado pelo Site-Norte tem dado os seus frutos, quer na crescente sindicalização, quer pelos resultados obtidos para os trabalhadores, sendo que os dois factores estão profundamente interligados: neste momento este sindicato da CGTP-IN já tem delegados sindicais eleitos em todos os turnos, e, no decorrer da greve do dia 3, uma das delegadas pedia ao Luís Pinto mais fichas de sindicalização para novos associados.