Verdade e alternativa

Armindo Miranda (Membro da Comissão Política do PCP)

A bipolarização de dois partidos – PS e PSD – rivais no exercício do poder, mas que realizam no essencial a mesma política, é em si mesma geradora de permanente mentira por qualquer um deles. Porque, para justificar a luta pelo poder, inventam divergências que não existem.

O PCP sempre falou verdade ao povo

Porque, após violentos e encenados confrontos verbais, e até insultos para títulos na imprensa ou na abertura de telejornais, sobre matérias essenciais em concreto acabam sempre por se entenderem. Porque, acusando-se de favoritismo político, abuso de poder ou corrupção, chegada a hora de poderem ser julgados e assumirem as suas responsabilidades, imediatamente tomam medidas e se ajudam, para abafar os casos e a assegurar a sua impunidade. E porque, ouvindo-se a verdade dita por outros partidos e em especial pelo PCP, que a bipolarização procura silenciar, de imediato convergem na acusação de que quem fala verdade está a mentir.

Com a ajuda preciosa de uma outra equipa – também ela ao serviço dos interesses de classe do capital –, os comentadores, conseguem até apresentar a mentira como uma virtude, um talento e até uma arte. Vem isto a propósito da disputa interna dentro do PS, que ocupa os noticiários todos os dias com doses em duplicado como se de algo extraordinário para o País se tratasse. Os dois antónios bem se esforçam no tom verbal por vezes até inflamado, no aparente afrontamento e até na indignação proclamada, para criar nos portugueses a ideia de que as diferenças entre si, e entre eles e o PSD, são grandes, com a vida a mostrar todos os dias que é mentira. Neste esforço – que, registe-se, tem sido grande – de tentar parecer o que não são, muitas mentiras, omissões ou meias verdades são observadas.

Apenas três exemplos: assumem-se como candidatos a primeiro-ministro quando sabem não existir no nosso sistema eleitoral qualquer candidatura a esse cargo; Seguro, colocado perante a necessidade de dizer o que faria com a austeridade, afirmou que a solução será levar à prática uma «austeridade inteligente»; Costa, perguntado se estava de acordo com o Pacto Orçamental aprovado no Parlamento Europeu com os votos do PS, do PSD e do CDS, respondeu que a solução será uma «leitura inteligente» do dito.

Ambos sabiam que estavam a mentir, os dois estão de acordo com a austeridade e com o Pacto Orçamental e as suas graves consequências para os trabalhadores, o povo e o País.

Mas a mentira como forma de estar na política já vem de longe e nisso tiveram bons mestres. Basta ver como o PS se afirmava na sua declaração de princípios, aquando da sua fundação, reafirmada em congresso no final de 1974: visava então a «destruição radical do capitalismo e não apenas a introdução de reformas democráticas no sistema existente». Sócrates, que aprendeu da mesma cartilha, mostrando uma mentirosa preocupação com o desemprego, prometeu criar 150 mil postos de trabalho e, quando se apanhou com maioria absoluta, uma das primeiras decisões que tomou foi alterar as leis laborais para que o grande capital pudesse despedir mais e mais depressa e com menos custos, reduzindo as indemnizações. Passos Coelho, que teve outros mestres (mas da mesma escola), copiou Sócrates prometendo uma coisa e fazendo outra.

A alternativa existe

Mas existe uma alternativa, tanto no plano ético como no plano do projecto alternativo para o nosso País. Essa alternativa é o PCP, que sempre falou verdade ao povo e afasta a mentira da sua acção política, e tem uma proposta alternativa para o País. Uma alternativa que passa pela concretização de uma política patriótica e de esquerda, que vai estar em discussão e debate, sendo a primeira iniciativa no dia 28, com o tema «A dívida, o euro e os interesses nacionais».

A partir dos eixos essenciais decididos pelo Comité Central, até Dezembro serão apresentadas e debatidas propostas para os principais problemas com que se debatem os trabalhadores e as populações e demonstrada a possibilidade real de serem implementadas. Tal alternativa passa, no imediato, pela demissão deste Governo, a ruptura com a política de direita e a construção de um governo patriótico e de esquerda. Esta é uma etapa importante da necessária transformação social e política do País, sem perder de vista a sociedade liberta da exploração do homem pelo homem, onde a riqueza esteja ao serviço da grande maioria do povo que a produz e, por isso, verdadeiramente democrática: a sociedade socialista.

 



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