Este país não é para crianças

Aurélio Santos

Cortaram abonos de família, subsídios de nascimento, subsídios de aleitação, reduziram as deduções fiscais com a educação e a saúde, baixaram salários, aumentaram «brutalmente» (para usar a terminologia de Vítor Gaspar) os impostos sobre o trabalho, reduziram o rendimento disponível das famílias, fecharam escolas, facilitaram os despedimentos, empurraram 250 mil jovens para fora do País, aumentaram o horário de trabalho, reduziram as férias, e depois gritaram «Aqui d’el-rei que não nascem crianças em Portugal»

É caso para perguntar: – Estavam à espera que nascessem?

Quando Passos Coelho tomou posse tínhamos a terceira mais baixa taxa de natalidade da Europa (9,4 por cada mil habitantes); hoje é só a pior da Europa (7,9) e corremos o risco de nas próximas quatro décadas perdermos 20% da população. Este um dos resultados da mais desastrosa e ruinosa governação.

A razão para a drástica falta de nascimentos foi muito recentemente dada por alguns hospitais que denunciaram que há grávidas a chegarem aos hospitais com fome e crianças a quem não é dada alta porque as famílias não as podem sustentar.

Confrontado com esta notícia o Sr. ministro da Saúde respondeu laconicamente: – os pobres não são comigo, não é uma questão deste Ministério. É a fome no seu melhor reduzida a uma mera questão de guichets. O problema é que no Ministério adequado, aquele do ministro Mota da motoreta abundam as tesouras e tudo o que tem sido feito é cortes.

É do domínio público que hoje o melhor e mais seguro passaporte para o desemprego é a gravidez. São conhecidos casos de exigência do compromisso de não engravidar durante cinco anos como requisito para admissão num emprego.

O que pensa o primeiro-ministro sobre estas situações? O que fez este Governo para as combater?

Como conjugar estas questões com as demagógicas preocupações com a demografia?

Há 60 anos emigraram os avós a fugir da guerra colonial, hoje emigram os filhos para fugir do desemprego e da fome. A continuar assim, não tarda que emigrem os netos à procura de uma escola ou de um infantário.

 



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