Dona Branca
Nos anos 80 estalou o escândalo da D. Branca, uma octogenária apelidada de «banqueira do povo» que utilizava o então pouco conhecido «esquema em pirâmide» para montar um negócio bancário clandestino, que pagava e concedia empréstimos a juros altíssimos (10% de juros/mês quando, na época, a Banca pagava 30%/ano) e, basicamente, funcionava com os depósitos de um dia a pagarem os juros dos depósitos dos dias anteriores, até acontecer a inevitável desconfiança da clientela, a corrida aos levantamentos e a completa insolvência da «banca» e da «banqueira» (que, de resto, seria condenada a dez anos de prisão).
Nessa altura, os banqueiros da praça embiocaram-se da sua magnificência e gritaram ao País, ainda quente da Revolução de Abril, a sua denúncia «da fraude», demonstrando aplicadamente que um «negócio bancário honesto» jamais permitiria 10% de juros ao mês.
E inflavam as arcas do peito, como se houvessem acabado de prestar à Pátria uma espécie de «serviço revolucionário» por conta.
Exactamente 30 anos depois de o semanário Tal & Qual ter desencadeado o caso D. Branca, os mesmos e outros banqueiros da raça institucional surgiram no centro de novo furacão.
Um furacão que começou em 2007, com os escândalos no BPN e no BPP – bancos fundados nos governos de Cavaco Silva, pejados de gente do PSD, incluindo governantes sob as ordens de Cavaco –, e que foi «resolvido» pelo PS de José Sócrates de forma curiosa: para «evitar o risco sistémico» que o financeiro Teixeira dos Santos inventara para o caso, nacionalizou os prejuízos e deixou nas mãos dos donos prevaricadores todos os activos e propriedades do BPN. Até ao momento, os contribuintes portugueses já pagaram sete mil milhões de euros por esta socrática generosidade para com os burlões encartados pela banca portuguesa.
Agora, o caso GES/BES cala tudo o que a antiga musa canta, porque outra burla (bem) mais alto se alevanta.
O governador do BP procura «acalmar os mercados» jurando a solidez do BES e a sua «independência» do GES, mas, evidentemente, não pode convencer ninguém da «independência» de um banco em relação aos negócios privados de quem dele foi longamente dono e, sobretudo, gestor absoluto.
Os «negócios» da Família fundaram muito mais de 100 «empresas», cujo exemplo paradigmático é a RioForte GES, que este mês já falhou o pagamento à PT dos 900 milhões de euros que o gestor Granadeiro lá enfiara meses atrás. O desastre está em andamento, na RioForte e em mais cento e muitas empresas do Grupo os «papéis» começam a revelar-se «sem provimento» e os comentadores já falam numa derrocada do GES «em cascata».
Termo deveras adequado. Como, afinal, a actividade bancária dos Espírito Santo não passou de um «esquema em pirâmide» – tal qual o da D. Branca –, a sua ruína ocorre, naturalmente, em cascata, pirâmide abaixo.