Cadáveres sob a Europa fortaleza
Mais de 23 mil pessoas perderam a vida na última década ao tentarem entrar na União Europeia ilegalmente, segundo revela um relatório da Amnistia Internacional, divulgado dia 9.
A organização refere que entre 2007 e 2013 a União Europeia gastou cerca de dois mil milhões de euros para blindar as suas fronteiras, ou seja, quase três vezes mais do que os 700 milhões consagrados ao apoio de refugiados e requerentes de asilo.
O estudo assinala que 48 por cento das pessoas que tentaram entrar ilegalmente na UE são provenientes de países em guerra, nomeadamente da Síria, Afeganistão, Eritreia e Somália.
A Espanha é um dos países que gastou mais verbas na segurança das fronteiras, cerca de 284,4 milhões, montante que contrasta com os 9,3 milhões destinados à assistência a refugiados entre 2007 e 2013.
O dinheiro serve para construir valas e erguer muros, reforçar os efectivos policiais e o seu equipamento, ou contratar serviços de tecnologia de ponta para vigiar os perímetros. Mas também é empregue para financiar as chamadas «zonas de contenção» em países terceiros, caso da Turquia, Marrocos ou Líbia.
Segundo a Amnistia, que defende o fim deste tipo de cooperação, a externalização do controlo de imigrantes para países terceiros constitui um expediente para a UE alijar responsabilidades em matéria de direitos humanos.
A organização refere ainda as «devoluções ilegais» como prática muito divulgada na Bulgária e sobretudo na Grécia.
Este procedimento consiste na intercepção em terra ou mar de imigrantes que já entraram em território de países da UE, e a sua devolução directa ao país de partida, sem identificar os indivíduos ou lhes dar a possibilidade de requerer asilo.
Só nos primeiros seis meses de 2014, mais de 200 pessoas morreram no Mediterrâneo e no mar Egeu, havendo ainda centenas de desaparecidos que podem também ter morrido.
A Amnistia considera que «as tragédias humanas que se desenrolam diariamente nas costas europeias não são inevitáveis nem estão fora do controlo da UE», mas pelo contrário, «muitas são criadas pela própria EU», que não pode por isso enjeitar responsabilidades. «Os estados-membros devem começar a pôr as pessoas à frente das fronteiras».