Palestina exige justiça
A Autoridade Nacional Palestiniana (ANP) pretende que a ONU investigue os crimes cometidos por Israel, isto depois de o assassinato de um jovem palestiniano ter desencadeado uma onda de protestos populares a que Telavive responde com mais violência.
«A “ordem” é esmagar a revolta dos palestinianos»
Num encontro com o enviado especial para o Médio Oriente, Robert Serry, o presidente da ANP exigiu das Nações Unidas a formação de um comité para investigar as atrocidades cometidas por Israel contra o seu povo. Segundo a agência Wafa, Mahmud Abbas pediu ainda «protecção internacional» para os palestinianos, justificando os apelos com a ofensiva de Telavive contra a Cisjordânia e a Faixa de Gaza desencadeada a pretexto do rapto de três jovens israelitas, e agravada depois do assassinato de Mohamad Abu Khdeir, um jovem palestiniano queimado vivo na quarta-feira, 2, em Jerusalém Leste.
Paralelamente, o governo palestiniano acusou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de incitar à violência ao falar em «vingança divina» durante o funeral dos colonos israelitas, cujo sequestro e homicídio é atribuído por Telavive ao Hamas, apesar de o movimento ter repetidamente negado responsabilidades, e, a par de outras organizações palestinianas, ter condenado o sucedido.
Em comunicado, o Ministério da Informação da Palestina denunciou que, após as declarações do chefe do executivo israelita, colonos invadiram as ruas «escoltados por soldados fortemente armados para destruir e danificar carros e propriedades e torturar palestinianos». No texto, citado pela Lusa, a ANP critica igualmente a conduta das autoridades sionistas em torno do linchamento de Mohamad Abu Khdeir, sublinhando que o corpo do adolescente de 16 anos foi retido durante dias com o intuito de impedir «que se soubesse a verdade sobre o porquê da morte e como foi torturado e assassinado». O governo palestiniano salienta também a chantagem feita sobre a família, pressionada a aceitar um relatório que garantia que o adolescente faleceu na sequência de uma rixa familiar.
Espiral criminosa
Mohamad Abu khdeir desapareceu na madrugada de quarta-feira, 2, em Jerusalém Leste ocupada, tendo sido encontrado horas depois numa floresta na parte Ocidental da cidade. O crime desencadeou uma onda de indignação que alastrou em Jerusalém e noutras cidades, às quais Israel responde com o recrudescimento da violência. Para além de dezenas de detenções e pelo menos 150 palestinianos feridos nas manifestações realizadas desde meados da semana passada – alguns dos quais atingidos com munições de guerra, segundo fontes médicas palestinianas citadas pela Prensa Latina –, há a destacar a prisão e espancamento de um outro jovem palestiniano de 15 anos. Tariq Abu Khdeir, primo do malogrado Mohamad Abu Khdeir, foi detido e brutalmente agredido pela polícia, facto atestado por um vídeo postado na Internet. Entretanto, e enquanto decorre uma investigação oficial, um tribunal de Jerusalém condenou Tariq a nove dias de prisão domiciliária por lançar pedras contra a polícia, acusações que o jovem que também detém nacionalidade norte-americano recusa.
A ministra da Justiça israelita, Tzipi Livni, afirma que o espancamento de Tariq «não reflecte a política de manutenção da ordem no país», mas a verdade é que «no país» a «ordem» é esmagar a revolta dos palestinianos, que desde o dia 12 de Junho, quando os colonos desapareceram em território controlado por Telavive nas proximidades de Hebron, contam já mais de 700 detidos, (cerca de um terço dos quais menores de idade), um número de feridos que cresce a cada dia, e quase duas dezenas de mortos, incluindo crianças, em resultado dos bombardeamento contra a Faixa de Gaza e da repressão dos protestos legítimos.