Perigoso e agressivo apodrecimento
Se há aspecto preocupante na situação presente é a sensação de um perigoso e agressivo apodrecimento da classe dominante e do imperialismo. Apodrecimento político, moral e ético. Talvez em nenhuma situação histórica anterior tenha sido tão visível a total ausência de escrúpulos dos quadros políticos que a grande burguesia tem ao seu serviço.
Esta apreciação não se aplica apenas ao nosso País, onde o problema é há muito evidente e percorre todo o «arco da governação» – o heterónimo da troika nacional da política de direita. Uma dirigente do PSD dá uma inacreditável entrevista sobre o Tribunal Constitucional. Considera que os respectivos juízes desobedecem ao «quadro normativo da UE» (que, na sua opinião, prevalece sobre a Constituição da República); lamenta que os acórdãos do TC não correspondam a «uma visão filosófico-política compatível com o projecto reformista» do PSD; ameaça os juízes com «sanções jurídicas». O ministro da propaganda do governo PSD/CDS afirma, noutra entrevista, que «o Governo tem sido irrepreensível para com o TC».
Na mesma semana Tony Blair publica um texto sobre a situação no Iraque em que defende que não foi a intervenção imperialista naquele país (da qual é um dos principais responsáveis) que criou condições para a caótica situação actual. Mas, admitindo embora que possam ter sido tomadas «decisões discutíveis», logo acrescenta que o necessário agora não é discutir, é agir. E defende nova operação imperialista… contra o Iraque e a Síria.
Num discurso de traços fascizantes, Obama dirige-se aos finalistas da academia militar de West Point. Reafirma a missão histórica do «excepcionalismo americano»: a de um imperialismo que não está sujeito a qualquer tipo de constrangimento político, jurídico, moral ou ético. A «América (os EUA) tem de liderar o palco mundial… os militares são, e sê-lo-ão sempre, a espinha dorsal dessa liderança», diz um homem premiado com o Nobel da Paz.
A demissão do Governo PSD/CDS é urgente. Na sua acção desastrosa, é apenas uma peça de um sistema mundial que, no auge do seu poder, atinge igualmente o auge da sua degradação. E, com ela, ameaça como nunca antes o futuro livre dos povos.