Protestos voltam às ruas da Turquia

Revolta latente

Um ano depois das grandes acções de massas que abalaram a Turquia, milhares de pessoas voltaram a exigir a demissão do governo, que respondeu com violência às iniciativas populares.

«O povo acusa o governo de corrupção e a considera-o ilegítimo»

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No domingo, na capital, Ancara, a polícia anti-motim usou granadas de gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar centenas de pessoas que pretendiam chegar à praça Kizila. O objectivo era homenagear um jovem de 26 anos morto durante a repressão das acções de massas que abalaram o país em Junho de 2013. Ethem Sarisuluk foi uma das oito vítimas mortais.

No dia anterior, sábado, 31, também em Ancara, mas sobretudo em Istambul, milhares de pessoas foram impedidas pelas autoridades de assinalarem o 1.º aniversário do desencadeamento das maiores movimentações populares das últimas décadas na Turquia. Cerca de 25 mil polícias e 50 canhões de água, carros blindados e helicópteros «militarizaram» o centro da maior cidade turca e, tal como havia prometido o primeiro-ministro Recep Erdogan, fizeram «o necessário» para evitar que os protestos voltassem a tomar o Parque Gezi e a emblemática Praça Taksim.

Pelo menos 170 pessoas foram detidas em Istambul e Ancara, e, no domingo, o comissário dos Direitos Humanos do Conselho da Europa denunciou a violência ordenada pelo governo de um dos seus membros mais antigos.

Nils Muiznieks criticou a Turquia pelo uso excessivo da força contra manifestantes e jornalistas. «Os acontecimentos de ontem [sábado, 31] somam-se à lista de casos em que a gestão das manifestações provocam grave preocupação», disse, considerando ainda que tais práticas «não são toleráveis» e constituem «uma ameaça ao Estado de Direito, ao direito de reunião pacífica, à liberdade de expressão e de imprensa».

A exigência de demissão do executivo liderado por Erdogan, presente nas iniciativas do último fim-de-semana, evidencia que a revolta expressa no Verão passado permanece latente, que o povo continua a acusar o governo de corrupção e a considerá-lo ilegítimo.

Sexta-feira, 30, morreu uma mulher de 64 anos que se encontrava em coma há mais de cinco meses em resultado do ataque policial a uma concentração realizada em Dezembro, em Istambul. Na quinta-feira, 29, o Ministério público turco anunciou o início de uma investigação à morte do jovem Berkin Elvan, de 15 anos, vítima da repressão das autoridades contra a multidão que, há um ano, ocupava o Parque Gezi e a Praça Taksim. Os casos alimentam o repúdio pelo governo do AKP e a sua responsabilidade na morte de manifestantes que se lhe opõem, mas o reacender da revolta ocorre quando permanece o choque provocado pela morte de 301 mineiros, a 13 de Maio.

As autoridades confirmaram, a semana passada, o encerramento provisório de três explorações da Soma Coal e anunciaram a abertura de inquéritos aos falsos relatórios emitidos, em Março, sobre a segurança na mina situada província de Manisa. Mas estas diligências não impedem que os turcos relacionem o maior acidente numa mina de carvão do país com o processo de privatização do sector; repudiem a resposta autoritária do governo às vítimas e familiares dos mineiros, e coloquem em causa o governo, questionando a razão pela qual o ministro do Trabalho e da Segurança Social entregou a investigação do acidente ao mesmo inspector que, semanas antes da tragédia, atestou a segurança da mina. Inspector que, certamente não por acaso, é cunhado de um alto quadro da Soma Coal.




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