Censura em toda a linha
Os resultados das eleições para o Parlamento Europeu abalaram a noite de domingo aos partidos do (mal) chamado «arco da governação». No seu conjunto os três sustentáculos da política de direita dos últimos 37 anos tiveram uma perda de mais de 400 000 votos, 7,5 pontos percentuais e dois deputados. E o mais grave é que esta derrota (ou a sua dimensão avassaladora) lhes pareceu tanto mais incompreensível quanto tudo fizeram para a esconjurar: manipulação e propaganda, convenções e conferências, saídas limpas, compromissos e promessas, favorecimento pelos órgãos da comunicação social dominante, ajudas do PR, do BCE e da troika.
Procurando apresentar-se com a majestática pose de «vencedores», lá apareceram, noite dentro, a comentar os resultados, procurando sobretudo distrair e baralhar: o PSD, através de Passos Coelho, para garantir que a derrota afinal não foi derrota porque o PS não ficou muito à frente e, além do mais, «todas as possibilidades estão em aberto para 2015»; o CDS, através de Paulo Portas, para garantir que, apesar da derrota, a legislatura é para levar até ao fim; o PS através de A. José Seguro para garantir que os portugueses «querem outro governo e querem que esse governo seja liderado pelo PS», mas sem ousar sequer balbuciar a reclamação de eleições antecipadas. E no meio destes desconcertos baralhantes para esconder a óbvia derrota dos partidos do governo e da política de direita, eis que surge a CDU, pela voz de Jerónimo de Sousa, a pôr os pontos nos is, a falar, com verdade, do grande êxito eleitoral da CDU e a anunciar que o PCP iria apresentar na AR uma moção de censura ao governo, cumprindo assim a promessa de levar o voto à luta, transpondo para o Parlamento a censura que o povo português acabara de fazer pelo voto, depois de a ter feito, ao longo de três anos, pela luta, em plena rua. E assim se ficou, de novo, a perceber que, se é verdade que com as eleições, por si só, os problemas do País não ficaram resolvidos, também é verdade que o reforço da CDU criou melhores condições para a sua resolução. O voto na CDU faz, de facto, toda a diferença. E o que verdadeiramente os preocupa é constatarem que, de dia para dia, sobe o número de portugueses que se vão apercebendo disso.