Inspiração germânica

Vasco Cardoso

É evidente que cada cada um escolhe quem quer para comemorar o 25 de Abril, mas a presença do principal responsável do SPD alemão, o sr. Sigmar Gabriel, ao lado do secretário-geral do PS, numa iniciativa daquele partido em torno destas comemorações, e a um mês das eleições para o Parlamento Europeu, transformou-se num momento revelador.

Desde logo porque o SPD partilha, de há uns meses a esta parte, o governo alemão com o partido da sra Merkel, pondo fim a um ciclo de alternância entre a direita e uma dita social-democracia, em muito semelhante àquele que se tem registado em Portugal com o PSD e o PS a assumirem à vez, com ou sem o CDS, o turno de serviço da política de direita. O exemplo correu mundo e chegou cá, tendo sido elogiado por alguns dos mais entusiastas apologistas dos «pactos de regime» entre os partidos do «arco do poder» (sobretudo por banqueiros e pelo próprio Presidente).

Ora esta nova coligação governativa na Alemanha, que pelo vistos inspira o PS, não só não alterou um milímetro da política daquele país no quadro da União Europeia, como aprofundou e está a aprofundar, o seu rumo federalista, militarista e neoliberal que temos vindo a denunciar. Juntos, o PS e SPD, ao mesmo tempo que criticaram o desemprego, a pobreza, as desigualdades, juraram fidelidade ao euro, ao Tratado Orçamental, ao «espírito dos pais fundadores» da União Europeia e a todos os dogmas deste instrumento ao serviço do grande capital que tem arrasado o nosso País. Ou seja, a tal «austeridade inteligente» de que Seguro fala.

Ora, o processo contra-revolucionário e de reconstituição do capitalismo monopolista em Portugal, em si mesmo, um processo de liquidação das conquistas de Abril, tem prosseguido sobretudo na base da alternância no governo entre PS e PSD, mas não é de excluir que, perante a crescente erosão da base social de apoio à política de direita, outras soluções possam vir a ser ensaiadas em benefício do grande capital. Procurando adiar, assim, uma ruptura com a política de direita, uma ruptura cada vez mais necessária com a política de exploração e empobrecimento, uma ruptura para defender e cumprir Abril e da qual o PS se afasta, tal como se afastou do socialismo a quem pediu o nome emprestado.




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