Crime repetido
Assinala-se, segunda-feira, 15 anos sobre o início dos bombardeamentos da NATO contra a então Jugoslávia, campanha imperialista que se prolongou por 78 dias, cujos crimes permanecem impunes.
As ondas de choque da guerra contra a ex-Jugoslávia perduram
«Um povo que esquece as suas vítimas e a sua história está condenado a revivê-la», afirmou o primeiro-ministro sérvio nas cerimónias oficiais realizadas dia 24 para assinalar o 15.º aniversário da agressão imperialista à República da Jugoslávia (então constituída pela Sérvia e pelo Montenegro). Ivica Dacic qualificou, ainda, de inocentes as vítimas dos bombardeamentos da NATO, iniciados a 24 de Março de 1999.
Para além das sessões oficiais, outras iniciativas assinalaram a guerra movida pela Aliança Atlântica e na qual participaram, directa ou indirectamente, 19 dos seus estados-membros. No jardim frente à Radiotelevisão pública da Sérvia, em Belgrado, foi inaugurado um memorial às 16 vítimas dos ataques da NATO contra o edifício, noticiou a Lusa. Nas escolas foi dada uma aula especial a todas as crianças e jovens, lembrando a campanha que o imperialismo justificou como de punição pela alegada repressão da minoria albanesa da província jugoslava do Kosovo por forças sérvias.
A NATO desencadeou a ofensiva depois de fracassadas as negociações em Rambouillet, Paris, cujo suposto objectivo era pôr fim ao conflito que se arrastava, desde 1998, entre grupos armados do Exército de Libertação do Kosovo (UÇK) e autoridades de Belgrado, acusadas de promoverem uma limpeza étnica. Durante 78 dias, 11 semanas, aviões e navios de guerra da NATO realizaram 3800 «operações de combate», lançando pelo menos 2300 mísseis e 14 mil bombas sobre um milhar de alvos. Cerca de 300 escolas e bibliotecas, mais de 20 hospitais e 40 mil habitações, 90 monumentos, dezenas de fábricas, pontes e estradas, centrais eléctricas e outras infraestruturas de serviços públicos foram reduzidas a escombros. Nem a embaixada da República da China em Belgrado (ataque no qual morreram três cidadãos chineses), bem como a televisão estatal, já referida, escaparam.
Balanço trágico
As ondas de choque da guerra contra a ex-Jugoslávia perduram para lá dos mortos (pelo menos 2500) e feridos civis (mais de 12 mil) e da destruição de uma parte do país. A promoção de uma campanha militar ao arrepio do Conselho de Segurança das Nações Unidas inaugurou uma nova era de espezinhamento do Direito Internacional. As consequências do uso de urânio empobrecido e das bombas de fragmentação perduram nos ecossistemas atingidos e perdurarão por gerações, encurtando-lhes a vida ou tornando-a num inferno. «Danos colaterais», «bombardeamentos cirúrgicos» e «guerra humanitária» são expressões que se impuseram no léxico da diplomacia belicista dos EUA e das demais potências capitalistas. Estima-se que 200 mil servo-kosovares tenham sido forçados a abandonar a província.
Dirigentes sérvios foram perseguidos, capturados e levados a julgamento ao estilo do «velho Oeste». O então presidente jugoslavo, Slobodan Milosevic, acabaria por morrer na prisão, em Haia, em circunstâncias ainda por esclarecer. Crimes contra a humanidade foram investigados arbitrariamente. Em Agosto de 2013, a Amnistia Internacional reclamava que a missão das Nações Unidas enviada para o Kosovo depois da assinatura do cessar-fogo, a 12 de Junho de 1999, falhou no apuramento dos factos ocorridos na chamada guerra servo-kosovar de 1998-1999, nomeadamente em relação às chacinas promovidas pelo UÇK contra a população de origem sérvia.
O Kosovo proclamou unilateralmente a sua independência em 2008, mas desde meados de 1999 que é dirigido pelo UÇK, «exército» organizado e apoiado pelos imperialistas alemães e norte-americanos e comprovadamente vinculado ao narcotráfico e ao tráfico de combustíveis ou tabaco, de órgãos humanos e de «carne branca». Poucos se atrevem a negar que os milicianos do UÇK vestiam fardas e combatiam com armas germânicas, que foram treinados pela CIA e pelos serviços secretos alemães na Albânia.
Os EUA instalaram no Kosovo uma das suas maiores (senão a maior) bases militares fora de território norte-americano. Ali mantêm sete mil soldados, 300 edifícios e 55 helicópteros, tendo já servido de base de apoio para guerras imperialistas posteriores e constituindo uma ameaça estratégica sobre nações e povos, do Médio Oriente à Ásia Central e Europa de Leste.
A criação de milícias terroristas, retomada em força com o UÇK na antecâmara da agressão à ex-Jugoslávia, afinou a doutrina imperialista sobre a matéria, como se constata, hoje, na Líbia, Síria ou Ucrânia.