Três notícias

Filipe Diniz

Notícia 1: José Luís Arnaut vai integrar o International Advisory Board do grupo Goldman Sachs. Nada mais natural. Por um lado, trata-se de preencher a vaga do tentáculo nacional dessa instituição, aberta pelo falecimento de António Borges, e juntar Arnaut a Carlos Moedas. O personagem tem o currículo certo, enriquecido pela intervenção directa em mais do que escuros processos de privatização, como sucedeu com a REN e mais recentemente com os CTT, dos quais o Goldman Sachs passou a ser o maior accionista.

Notícia 2: No ano de 2013 dois negócios que são propriedade de Tony Blair tiveram uma receita de 13 milhões de libras (Guardian, 5.01.2014). Blair recebe ainda muitos mais milhões em conferências e consultorias (nomeadamente ao mal-afamado governo do Cazaquistão e ao banco JP Morgan), e possui um vultuoso património imobiliário. Diz que dá muito dinheiro a obras de caridade, talvez mesmo em apoio às vítimas dos crimes de guerra de que é também responsável, dos quais mais de 400 vão ser apresentados ao Tribunal Criminal Internacional (Independent, 12.01.2014).

Notícia 3: A empresa de construções Sacyr suspendeu as obras de alargamento do Canal do Panamá reclamando 1,6 mil milhões de dólares de trabalhos a mais. O processo é clássico: tendo ganho o concurso da empreitada com um preço artificialmente baixo, pôs o seu exército de técnicos e juristas a trabalhar na forma de extorquir ao governo panamiano um extra de mais 50%. O governo panamiano estrebucha mas, provavelmente, está entre a espada e a parede.

São três notícias sobre o poder dos monopólios, sobre o capitalismo monopolista de Estado. Os monopólios transnacionais têm o poder de colocar os seus agentes nos cargos de maior responsabilidade do poder político (e, se estão satisfeitos, de lhes conceder um prémio); de graças a eles extorquir uma fatia ainda maior da riqueza socialmente criada e de acelerar uma cada vez maior centralização do capital; de celebrar e de romper contratos com os estados e de exercer chantagem sobre eles, porque dispõem de um poder económico, técnico e político muitíssimo superior.

Ainda há quem subestime a luta no marco nacional. Sem o combate ao capitalismo monopolista de Estado não é possível uma política ao serviço do povo.




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