Boas greves e melhores manifestações
Para qualquer balanço que se faça do ano que hoje finda, é imprescindível considerar a persistente, constante e determinada movimentação de trabalhadores dos mais diversos sectores, profissões, regiões. Ela assumiu também diversas formas e os seus objectivos, em frequentes ocasiões, foram partilhados com milhares de pessoas de outros estratos sociais e foram um estímulo para romper desânimos, alargar unidade, resistir ao aumento da exploração e ao empobrecimento do povo, para suster a política de direita das últimas décadas e construir uma alternativa com raízes na revolução de Abril.
Foram os trabalhadores os mais atingidos, em mais um ano de ataque do Governo do PSD e do CDS-PP, de Passos Coelho e de Paulo Portas, submissos à troika dos usurários estrangeiros, por via de um pacto de agressão que compromete também o PS. Mas os trabalhadores também foram, entre os atingidos, os mais conscientes e os mais organizados. Deram luta em todas as frentes, forçaram recuos e alcançaram vitórias, provaram estar certos e ganharam apoios.
Neste suplemento, recordamos lutas de trabalhadores que marcaram os doze meses de 2013, num levantamento em que não cabem, sequer, todas as que foram por nós noticiadas. Cada leitor acrescentará casos que recorda ou em que, muito provavelmente, participou. Nas imagens, a que damos lugar de destaque, espera-se que todos se revejam, na mancha da multidão, na expressão dos rostos, no momento único, no sentimento comungado.
Este é um registo de 2013 que faz falta destacar. É também uma ponte para as lutas que se perspectivam no novo ano e que temos que enfrentar com realismo e confiança.
Esta é também a nossa maneira de felicitar todos os trabalhadores que estiveram e vão continuar em luta, desejando boas greves e melhores manifestações em 2014.
Janeiro
Prolongam-se no Ano Novo greves ao trabalho suplementar ■ Dia 10, no Ministério da Economia, em Lisboa, trabalhadores dos bingos do Salgueiros e Olímpia defendem postos de trabalho ■ Dia 14, perante novas greves, Kemet adia deslocalização e despedimento colectivo em Évora ■ Dia 17, manifestação nacional de ferroviários, da sede da CP até ao Ministério da Economia ■ Dia 21, perante protesto de trabalhadores da Administração Pública, Ministério das Finanças é encerrado durante cerca de 20 minutos ■ Dia 26, dezenas de milhares de professores manifestam-se em Lisboa, exigindo a substituição do ministro, do Governo e da política que destrói a escola pública ■ Trabalhadores do Metropolitano de Lisboa cumprem greves parciais.
Fevereiro
Greve de 24 horas, dia 1, na STCP ■ Dia 2, centenas de militares nas comemorações do Dia Nacional do Sargento, em Lisboa ■ Em greve, dia 5, enfermeiros contratados manifestam-se na ARS, no Porto ■ Dia 7, frente ao Ministério da Defesa, trabalhadores alertam para planos de reestruturação dos estabelecimentos fabris do Exército; no Porto, frente à Anivec, exige-se actualização salarial de 2012 ■ Dia 11, trabalhadores das cantinas e refeitórios concentram-se junto à Trivalor (Gertal/Itau), em Leça do Balio ■ Na terça-feira de Carnaval fazem greve trabalhadores da CP, CP Carga, Refer e EMEF ■ Jornada de «resistência e luto da família ferroviária», dia 14, em defesa do direito às concessões; junto a empresas dirigentes de associações patronais da metalurgia, do sector automóvel e das indústrias eléctricas, exige-se aumentos salariais ■ CGTP-IN promove, dia 16, manifestação nacional em 24 cidades, contra a política de empobrecimento dos trabalhadores e agravamento da exploração ■ Dia 18, Fenprof inicia «semana de luto e de luta pela profissão de professor e em defesa da escola pública» ■ Manifestação em Viana do Castelo, dia 20, exige acção urgente do Governo para garantir o futuro dos Estaleiros ■ Dia 21, em Lisboa, junto do Ministério da Economia, concentração de trabalhadores da agricultura, alimentação, hotelaria, turismo, restauração e bebidas; em greve, trabalhadores da SUCH, de Coimbra, Viseu, Aveiro, Castelo Branco e Leiria, concentram-se na sede da empresa, em Lisboa ■ Dia 28, «Água é de Todos» entrega na AR iniciativa legislativa de cidadãos, com mais de 43 mil assinaturas.
Março
Dia 2, a partir de apelo nas redes sociais, ocorrem manifestações com milhares de pessoas em Lisboa e mais cerca de 40 localidades ■ Semana de luta nos transportes e comunicações, promovida por cerca de três dezenas de estruturas representativas, com greves na Rodoviária do Tejo e na STCP, concentrações e cortes simbólicos de circulação ferroviária, e uma grande manifestação nacional no dia 9 ■ Dia 13, na baixa de Lisboa, acção sindical contra o bloqueio patronal da negociação colectiva, pela publicação de portarias de extensão e pelo aumento dos salários ■ Dia 15, em Lisboa, manifestação nacional reúne milhares de trabalhadores da Administração Pública ■ Militares aprovam resolução num encontro, em Almada, dia 6, que entregam dia 20 na residência do primeiro-ministro ■ Caminhada dos têxteis, vestuário e calçado, em Guimarães, com milhares de pessoas, contra salários baixos ■ Semana de luta dos reformados e pensionistas, de 20 a 26, com acções em Ovar, Feira, São João da Madeira, Braga, Porto, Beja, Covilhã, Coimbra, Évora e Lisboa ■ Dia 26, manifestação em Lisboa pela viabilização dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo ■ Dia 27, manifestação do Dia Nacional da Juventude, em Lisboa, porque «Queremos trabalho, exigimos direitos!».
Abril
De 6 a 13, a CGTP-IN organiza «marcha contra o empobrecimento», que teve expressão em mais de 40 localidades e mobilizou milhares de pessoas, culminando com uma manifestação em Lisboa ■ De 9 a 13, Fenprof declara «tolerância zero» ao Governo, com centenas de reuniões sindicais de professores em escolas de todo o País ■ Enfermeiros de hospitais EPE em regime de contrato individual de trabalho exigem receber a remuneração mínima da carreira, numa série de acções do SEP, como as concentrações na ARS Norte, dia 12, e no Hospital de Santa Maria, dia 16 ■ Greves na SATA, de 23 a 25 e nos dias 2 e 4 de Maio, pelo cumprimento do acordo obtido na TAP ■ Dia 30, Steffas entrega ao Governo duas mil assinaturas contra extinção dos estabelecimentos fabris do Exército ■ CGTP-IN apela a que as comemorações dos 39 anos do 25 de Abril e do 1.º de Maio em liberdade se tornem «grandiosas jornadas de luta nacionais contra a política de direita e pela demissão do Governo».
Maio
Centenas de milhares de pessoas participaram nas iniciativas do movimento sindical unitário, em quatro dezenas de localidades, celebrando o 1.º de Maio, Dia Mundial dos Trabalhadores ■ De 6 a 12, greves parciais dos guardas prisionais, após uma semana de greve, de 24 a 30 de Abril, pelo estatuto profissional ■ Plenário da Administração Pública, dia 6, no Ministério das Finanças, contesta «novos esbulhos» anunciados dia 3 pelo primeiro-ministro ■ Ferroviários reformados concentram-se, dia 9, na sede da CP, contra o roubo das concessões ■ Dia 10, em Coimbra, trabalhadores dos CTT (Taveiro) em greve manifestam-se contra o encerramento do Centro de Produção e Logística da região centro ■ De 13 a 18, greves de quatro horas na Saint Gobain Sekurit Portugal, contra despedimento colectivo ■ Dia 15 arranca a «Caravana pela escola pública», campanha da Fenprof que vai decorrer até 6 de Junho ■ Dia 17, na Frustock (Abrunheira, Sintra), concentração contra despedimento do delegado sindical ■ De 20 a 24, greves na Portalex (Cacém), pelo caderno reivindicativo ■ Dia 25, em Belém, grande manifestação da CGTP-IN exige demissão do Governo e eleições antecipadas ■ Dia 27, greves no Contact Center da EDP, em Seia, e na Ambiente & Jardim (limpeza industrial) ■ Dia 29, encontro nacional de profissionais das forças e serviços de segurança desloca-se da Voz do Operário à residência do primeiro-ministro ■ Dia 30, feriado roubado aos trabalhadores, decorrem acções contra trabalho gratuito, incluindo greves; greve nos hotéis do Grupo VIP, em Lisboa.
Junho
Dia 1, guardas prisionais terminam 12 dias de greve ■ Contra os ataques aos salários e direitos dos trabalhadores e contra a privatização de empresas lucrativas, greves nos CTT, dia 7, e na Valorsul, dias 11 e 12 ■ A «mobilidade» e o aumento do horário de trabalho são contestados pelos professores, na greve ao serviço de avaliações e numa grande manifestação nacional, dia 15 ■ Dia 17, greve na Sorel (Lisboa) ■ Dia 22, concentração da Fenprof e do SNESup no MEC conclui «semana pelo Ensino Superior e a Ciência» ■ A greve geral de dia 27 representa «um abalo irreparável no Governo PSD/CDS-PP e na sua política», como assinala Jerónimo de Sousa.
Julho
Dia 6, em Belém, milhares de pessoas respondem ao apelo da CGTP-IN e exigem do Presidente da República a demissão do Governo PSD/CDS e eleições legislativas antecipadas ■ Na Inapal Plásticos, em Leça do Balio, série de greves parciais ao longo do mês resulta em melhorias remuneratórias, alargamento do prémio de desempenho e compromisso para negociações de 2014 ■ Greve dos enfermeiros, dias 9 e 10, contra aumento do horário para 40 horas semanais, cortes na Saúde e discriminação dos profissionais em contrato individual de trabalho ■ Protesto de dirigentes e activistas sindicais da Função Pública, dia 18, frente ao Ministério das Finanças ■ Dia 23, manifestação de trabalhadores das autarquias do Barreiro e da Moita, reclamando demissão do Governo ■ Dia 24, trabalhadores do Hotel Montechoro, em Albufeira, retomam a greve pelo pagamento de salários em atraso ■ Vigília de enfermeiros, de 22 a 24, frente ao Ministério da Saúde ■ Dia 26, os estivadores do porto de Lisboa completam cinco semanas consecutivas de greve, uma ou duas horas por dia, com adesão total ■ Dia 29, manifestação nacional da Administração Pública até ao Parlamento, onde PSD e CDS aprovaram o aumento do horário de trabalho, a «requalificação», uma nova redução do valor da indemnização por cessação do contrato de trabalho e o «fundo» que apenas garante o pagamento de metade desta compensação.
Agosto
Na EDP Distribuição começa, dia 10, greve pela reposição do valor do trabalho suplementar e dos descansos compensatórios, conforme determina o ACT ■ Dia 12, no Funchal, enfermeiros concentram-se na Secretaria Regional dos Assuntos Sociais, contra discriminação salarial de 400 profissionais ■ Dia 15, greve dos trabalhadores do handling de Lisboa (SPdH), contra abusos na organização de horários e no recurso a trabalho temporário ■ Greve dia 16, na SOS Mobile, em Alfragide, pelo pagamento dos salários em atraso ■ Dia 20, tribuna pública no Camões, em Lisboa, contra a privatização dos CTT; vigília, frente ao Hospital Garcia de Orta, em Almada, pelo Serviço Nacional de Saúde ■ Campanha do Sindicato da Hotelaria do Norte toca mais de 600 locais de trabalho e mais de três mil trabalhadores, incluindo, dia 26, os hotéis Sheraton e Tiara Park Atlantic, no Porto ■ Dia 27, greve na Neolux, pelo pagamento de remunerações em atraso.
Setembro
Dia 11, começa em Faro a «Onda de luta contra a privatização dos CTT», promovida pelo SNTCT, que vai percorrer todo o País e termina em Lisboa, a 9 de Outubro ■ Dia 12, dezenas de organizações representativas dos trabalhadores de empresas públicas de transportes convocam semana de luta, a começar no feriado roubado de 5 de Outubro, para responder ao ataque do Governo, com o novo regime do sector empresarial público ■ Dia 17, trabalhadores da Carveste (Belmonte) deslocam-se a Lisboa para defender os postos de trabalho e exigir a recuperação da empresa ■ Dia 18, véspera do início de greves de uma hora diária, a Postejo (Benavente) paga parte do subsídio de férias ■ Dia 20, em Lisboa, plenário sindical da Administração Local sai da Casa do Alentejo e exige na residência do primeiro-ministro a revogação do aumento do horário de trabalho e a mudança de política e de Governo ■ Dia 25, em Lisboa, a Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública promove uma jornada nacional de protesto contra o corte nas pensões.
Outubro
Dia 1, a CGTP-IN assinala o seu 43.º aniversário com plenários, encontros, concentrações e paralisações, bem como iniciativas comemorativas e de confraternização ■ Dia 3, dirigentes e delegados sindicais da Função Pública ocupam o átrio do Ministério da Saúde ■ Dia 4, manifestação em Viana do Castelo contra a destruição da empresa pública e a sua entrega a privados, agora por «subconcessão» ■ Dia 5, segundo feriado roubado este ano, CGTP-IN realiza jornada com greves e iniciativas públicas ■ Dia 8, representantes dos trabalhadores do ramo da indústria e ambiente, do sector empresarial do Estado, protestam no Ministério das Finanças ■ Dia 15, jornalistas da RTP/TV declaram em plenário a perda de confiança na Direcção de Informação, pela realização do «mapeamento» de pessoal; começa semana de greves de enfermeiros, com plenários nas instituições hospitalares ■ Dia 19, em Lisboa e no Porto, centenas de milhares de pessoas saíram à rua e passaram as pontes sobre o Tejo e o Douro, «Por Abril, contra a exploração e o empobrecimento» ■ Dia 25, greve nos CTT dá início a uma quinzena de greves no sector público de transportes e comunicações, cumprindo uma decisão tomada por 36 sindicatos e comissões de trabalhadores; jovens trabalhadores de restaurantes da McDonald's denunciam pressões para despedimento em Lisboa.
Novembro
Dia 1, terceiro feriado roubado, protesto nacional da CGTP-IN, frente ao Parlamento, que vota o OE para 2014 ■ Dia 5, Fenprof entrega na AR uma petição assinada por mais de 12 mil docentes, pela revogação da prova de acesso à profissão ■ Dia 8, greve nacional da Administração Pública, convocada pela Frente Comum e outras estruturas ■ Dia 9, grande manifestação encerra quinzena de lutas nos transportes e comunicações; frente ao Casino da Póvoa de Varzim, concentração contra despedimento colectivo ■ Dia 12, greve total do pessoal da Solnave no refeitório do ISEG, em Lisboa ■ Dia 14, vigília na INCM, em defesa de direitos nos Serviços Sociais; «tribuna livre» de docentes do ensino artístico e dos conservatórios prolonga-se no átrio do MEC; na ULS Guarda, protesto contra despedimento de enfermeiros, com recuo da administração no dia seguinte ■ Dia 15, dirigentes e delegados sindicais da Função Pública ocupam o átrio do Ministério da Justiça ■ Dia 21, grande manifestação, em Lisboa, promovida pela Coordenadora dos Sindicatos e Associações dos Profissionais das Forças e Serviços de Segurança ■ Dia 22, greve nas pastelarias Princesa (Moita) ■ Dia 25, greve dos magistrados do Ministério Público; por apelo das associações profissionais, militares permanecem nos quartéis até ao arrear da bandeira ■ Dia 26, CGTP-IN organiza centenas de acções em todo o País e uma grande manifestação no Parlamento, rejeitando o OE e a política que ele serve, com ocupações simbólicas de quatro ministérios ■ Dia 28, concentração na sede da Securitas, contra lay-off na zona de Portimão; greve pára Metro durante a manhã ■ Dia 29, contra a privatização, greve nos CTT e manifestação em Lisboa.
Dezembro
Começam greves parciais na Carris (dia 1) e na STCP (dia 2), até dia 7 ■ Dia 8, greve na Moviflor, com concentrações em Olhão, Corroios e Porto ■ Dia 9, trabalhadores do Casino da Póvoa manifestam-se em Lisboa ■ Dia 10 terminam na Valnor dois dias de greve ■ Em defesa dos ENVC públicos, contra a subconcessão e o despedimento, manifestações em Viana do Castelo, dia 13, e Lisboa, dia 18 ■ Greve de professores, dia 18, ao serviço ligado à prova de acesso ■ De 16 a 20, CGTP-IN promove semana de acções públicas de trabalhadores e da população, com ponto alto dia 19, na vigília em Belém ■ Greves no Metro e na INCM (dia 19), na ThyssenKrupp Elevadores (20) e na CM Lisboa (24 a 27).