Jerónimo de Sousa no debate sobre o Conselho Europeu

Na luta a chave da mudança

O Governo vai alimentando a ideia de que está em curso a «retoma», um quase «milagre económico», falando até de «recuperação de soberania». Pura propaganda, considera Jerónimo de Sousa, sublinhando que tal discurso esbarra no País real.

Governo obedece aos ditames da troika e da União Europeia

«A história que os portugueses vivem é outra: é a do milhão e meio de desempregados, a dos dois milhões e setecentos mil a viver em risco de pobreza ou já em privação severa», contrapôs o Secretário-geral do PCP, que falava, dia 18, na AR, no debate preparatório do Conselho Europeu que viria a ter lugar no dia seguinte em Bruxelas.

Dando mais exemplos desse fosso que separa as declarações de conveniência do chefe do Governo da verdadeira situação do País, o líder comunista assinalou que esta é ainda a história de um país com «um governo completamente submetido aos ditames da troika e da União Europeia», de um país onde, além dos 130 000 portugueses que se viram obrigados a deixar Portugal, um terço dos que ainda cá vivem – mais de três milhões – põe a hipótese de emigrar por causa da sua situação económica».

Passos Coelho quis negar que haja «propaganda em torno da retoma económica», adiantando que há sim é «dados publicados por instituições oficiais, o INE e o Banco de Portugal». E insistiu que «está a diminuir o desemprego», que o «emprego está a aumentar» e que «temos a economia a crescer no segundo trimestre de uma forma muito significativa».

Jerónimo de Sousa lembrou-lhe porém que, enquanto o Governo afirma «irresponsavelmente que o País está a recuperar», há 40% da população que afirma «ficar sem dinheiro para viver depois de pagar as suas contas», enquanto 29% considera que «não tem dinheiro suficiente para uma vida digna».

Ora sobre este quadro concreto – retrato fiel da sua política – o chefe do Governo não disse uma palavra.

Capital sorri

Já quanto às negociações com a UE e a troika sobre um «programa cautelar», admitido pelo presidente do BCE – questão igualmente posta pelo líder comunista –, Passos Coelho asseverou que «não existe uma negociação em curso visando a saída do programa por parte de Portugal». E acrescentou, citando Mário Draghi, que «compete ao Governo português apresentar às instituições europeias a sua estratégia para saída do programa de assistência económica e financeira», não excluindo no entanto «nenhuma das possibilidades», ou seja, a de poder «vir a negociar uma linha precaucionária ou não». O que viria a motivar a crítica do líder comunista, inconformado por aquele se refugiar num «pois sim, mas não, talvez, numa tripla, não respondendo a coisa nenhuma».

Invocado pelo chefe do Executivo foi ainda o que definiu como «elogios ao programa português» da parte do responsável do BCE, bem como ao «desempenho macro-económico da economia portuguesa», a par da disponibilidade por aquele manifestada de «ajuda para transição de mercado».

«Pudera... Não há-de o senhor Draghi estar satisfeito... Eu já ouvi banqueiros que estão satisfeitíssimos, já ouvi testas de ferro de grupos económicos que estão satisfeitíssimos, os multimilionários que viram aumentar as suas fortunas estão satisfeitísimos», reagiu Jerónimo de Sousa, identificando aquele que disse ser o grande problema: «é que os portugueses, na sua grande maioria, estão profundamente insatisfeitos e preocupados com o resultado desta política».

Abordando as previsíveis conclusões do Conselho Europeu, o líder comunista criticou o «aprofundamento dos constrangimentos contra Portugal», bem como as chamadas «parcerias baseadas em acordos contratuais», as quais, em sua opinião, são «autênticos pacotes de chantagem económica, em tudo similares ao actual pacto de agressão, sem lhes chamar esse nome».

 

Indisfarçável militarismo

Sobre o quadro actual da União Europeia centrou ainda o Secretário-geral do PCP a sua atenção para lembrar que este é o espaço dos «27 milhões de desempregados, dos 125 milhões de pobres, a União Europeia “prémio nobel da paz” que tantos, à direita e à esquerda, saudaram». E sublinhou que é a mesma UE que neste Conselho decidiu «aprovar um gigantesco e milionário programa que visa obrigar os estados membros a aumentar os gastos em armamento e na indústria da guerra e procura concentrar ainda mais o poder do complexo industrial militar nas grandes potências e no grande capital».

«A União Europeia do desemprego, da crise social», prosseguiu, «é a mesma que define um enorme conjunto de medidas que, em colaboração com a NATO, a vai afirmando como ela é: um projecto de domínio imperialista contrário aos interesses dos trabalhadores e dos povos do nosso continente e também de todo o mundo».

Nada, porém, «é imutável», enfatizou Jerónimo de Sousa, recordando que se é verdade que os «impérios fazem planos para mil anos, maior verdade é a que todos eles acabaram por cair e foram derrotados pela luta e vontade dos povos em favor da paz».

A «política comum de defesa e segurança» é uma «matéria estratégica» para a Europa, para todos os países, respondeu Passos Coelho, que não podia ser mais claro em mostrar o seu alinhamento com a face militarista da UE ao defender que «todos» têm «muito a ganhar» se se conseguir «partilhar melhor os recursos» neste domínio e «activar» os respectivos «mecanismos de defesa e segurança».

 



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